quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

RETROSPECTIVA BUSH (2001-2009)

Depois de oito anos como presidente da maior potência mundial George Walker Bush termina seu mandato, oficialmente em 20 de janeiro de 2009, querendo ser lembrado como um bom governante e não só pela guerra do Iraque. O professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Jelson Oliveira, mestre em filosofia, explica que “Bush não foi só um mau presidente porque fez a guerra, mas porque espalhou pelo mundo uma belicosidade petulante que consolidou uma imagem negativa exteriormente, mas também internamente, no que diz respeito ao governo do país. Não é à toa que os índices de desaprovação de seu governo são tão altos e a atual crise econômica mostra a ineficiência de seu governo em solucionar os problemas que vinham se acumulando há tempos”.

Nascido em 6 de julho 1946, em Connecticut. Casado com Laura Welch Bush, pai das gêmeas Barbara e Jenna. Trabalhava como gerente geral do Texas Range até que foi eleito governador, foi o primeiro a ser reeleito consecutivamente. Concorreu pela primeira vez à presidente em 2000, contra o democrata Al Gore e apesar do empate foi considerado eleito por uma decisão do judiciário. Fato que entrou para história americana por que nunca tinha havido interferência de nenhum poder nas eleições presidencialistas, bem como o marco de ser a eleição mais cara desde 1960, quando John Fitzgerald Kennedy, o presidente mais jovem dos EUA, foi eleito.

Durante a campanha para o primeiro mandato Bush tinha como promessas: reforma das escolas públicas, modernização do Social Security e do Medicare, o incentivo a instituições religiosas para que trabalhassem juntamente com o Estado para auxiliar os norte-americanos carentes, aumento dos investimentos em sistemas de armas de alta tecnologia, criação de benefícios militares, como a melhora dos salários e o apoio ao desenvolvimento de sistemas antimísseis. Na política de impostos propôs um corte de US$ 483 bilhões em cinco anos, simplificação no sistema de arrecadação de tributos e a diminuição de taxas para todos os norte-americanos.

Contra o aborto e o casamento homossexual, no primeiro dia como presidente, Bush bloqueou a ajuda federal a grupos estrangeiros que oferecem aconselhamento ou qualquer outra assistência para mulheres que fazem abortos. Ao longo dos dois mandatos o presidente enfrentaria certas crises de popularidade e várias manifestações populares por não ser favorável a essas práticas.

Durante o primeiro período de governo, houve outras situações em que as decisões de Bush não contaram com o apoio favorável dos norte-americanos e, em alguns casos, do mundo, dentre elas a recusa em implementar o Protocolo de Kyoto e a rejeição em assinar um documento internacional que proibia armas biológicas (de 56 países somente os EUA negaram o acordo). De acordo com a socióloga e cientista política Magna Mattos Cruz, a postura militarista do presidente deixou um déficit na economia americana e o impacto causado para o mundo fez com que se tornasse o presidente mais antipopular da Casa Branca.

No entanto, com o ataque de 11 de setembro de 2001 - em que foram seqüestrados 4 aviões sendo que dois atingiram o World Trade Center, um o pentágono e o último foi encontrado na Pensilvânia - Bush tomou medidas mais enérgicas, e declarou guerra contra o terrorismo e Osama Bin Laden (principal suspeito de ter planejado os ataques), com isso atingiu o ápice de notoriedade e, com aproximadamente 90% aprovação, se tornou o presidente mais popular da história americana. A socióloga explicou que as “falhas no governo Bush, apesar do sistema presidencialista, ambos tem a causa na figura dele, mas da conjuntura que se formou depois do 11 de setembro e das orientações do partido republicano, conseguiu com argumentos ‘reais’ para por em prática políticas belicistas.”

Juntamente com o Reino Unido, em 7 de outubro de 2001, os Estados Unidos iniciam ataques aéreos ao Afeganistão. Devido à luta contra o terrorismo, Bush institui o patriot act em que diminui a liberdade e amplia os poderes de repressão e violência. Exatamente dois meses depois dos ataques o Taleban anuncia a rendição total de Candahar e Mulá Omar desaparece. No entanto, as tropas permanecessem no país e somente em maio de 2003 o secretário de defesa anuncia o fim das principais operações de combate.

Em janeiro de 2002, Bush apresenta o eixo do mal (Irã, Iraque e Coréia do Norte) países que supostamente desenvolviam armas de destruição em massa e financiavam grupos extremistas. De acordo com o professor Jelson Oliveira, Bush conta com apoio de igrejas radicais de direita. “Esse fato faz com que o seu governo moralize e ideologize além do aceitável. Então, em primeiro lugar, devemos pensar nas famosas expressões eixo do mal, guerra justa, justiça no deserto e tantas outras. Não sei se ele inventou isso, mas o seu governo exagera ao se auto proclamar um governo do bem e taxar todos os outros de mal. De qualquer modo, é bom lembrar que a invenção de um inimigo faz parte da estratégia de um governo bélico – é preciso de inimigos para mostrar poder frente às demais nações, realizar guerras é uma forma de movimentar a economia. Pelo menos na cabeça de alguns assessores de Bush.”

Em dezembro de 2007, o relatório da inteligência americana divulgou que o Irã teria suspendido o programa nuclear militar em 2003. “O eixo do mal já teve várias definições, de acordo com o contexto da época e o presidente em jogo. O eixo é estrategicamente importante para os EUA devido ao combustível fóssil que os norte-americanos mais prezam, e nele baseiam o funcionamento efetivo do seu consumismo. As guerras das religiões sempre existiram na história da humanidade, às vezes caminham juntas e harmônicas, conforme os interesses, e às vezes tornam-se inimigas mortais” declara a socióloga.

Na política interna desenvolve um método para melhorar o desempenho das escolas públicas, o ato no child left behind. Bush, em 6 de agosto de 2002, assume uma postura totalitarista ao estabelecer a lei do fast track, que concede ao presidente plenos poderes para negociar acordos comerciais sem precisar da aprovação do congresso, além disso, garantia que ninguém está apto a vetar a decisão presidencial. Mesmo com a lei em vigor desde 2002, Bush só a utilizou pela primeira vez no segundo mandato.

Em junho os EUA desenvolvem um programa para derrubar Saddam Hussein (presidente iraquiano). Alguns meses depois proclamam a nova política de segurança externa que consistia em impedir que qualquer país atinja um poderio militar equivalente. Na política interna, nos EUA, há mais limitações dos direitos civis e os imigrantes podem ser presos sem acusações formais. No segundo mandato a lei Military Commissions permite que os militares persigam ao invés de julgarem do modo tradicional os combatentes inimigos.

Em março de 2003 inicia-se a guerra do Iraque que conta com o apoio de mais de 20 nações. A principio a ONU não apoiava, mas depois de um mês autoriza a presença de uma ‘autoridade provisória de coalizão’ que seria os EUA. Ao longo de toda a ocupação norte-americana no Iraque varias manifestações, passeatas e movimentos eclodem nos EUA.

Em dezembro, as tropas norte-americanas capturam o presidente foragido, Saddam Hussein, e o levam para a cadeia de Guantánamo. Fotos e vídeos das torturas feitas aos prisioneiros de guerra vazam para a internet, assim como o vídeo da execução de Saddam (30 de dezembro de 2006), e por causa do impacto que as imagens despertam na população a popularidade de Bush começa a decair e fomentam os protestos anti-Bush em todo o mundo.

A opinion research busisness, em janeiro de 2008 revelou que mais de um milhão de iraquianos morreram desde a invasão e que um em cada cinco lares perdeu no mínimo um membro da família entre março de 2003 e agosto de 2007 por causa da violência. Em fevereiro de 2007 a câmara aprova uma resolução contra o envio de tropas ao Iraque, mas Bush veta assim com ao prazo de retirada do exercito norte-americano.

Apesar de todas as críticas, protestos e queda na popularidade Bush consegue se reeleger (com 50,7% dos votos). Na campanha para o segundo mandato, as propostas eram: compromisso com a guerra do Iraque e do Afeganistão, leis mais efetivas contra o aborto e o casamento homossexual, reforma no Social Security, crédito de carbono para controlar a emissão do poluente, guestworker (programa temporário para incentivar a imigração). O professor Jelson Oliveira explicou que “os norte-americanos aos poucos se deram conta da ineficiência do governo Bush. A política bélica trouxe os efeitos indesejados: as famílias recebendo seus mortos. E o bloqueio de informações, a tentativa de alienação da população e a força de algumas entidades que dentro dos Estados Unidos têm lutado por uma democracia verdadeira, com política social e respeito aos direitos humanos: isso contribuiu para que a população se desse conta do governo que tinha.”

O furacão Katrina atinge o sul dos EUA, em agosto de 2005, e abala a já instável imagem do presidente, visto que o governo não conseguiu dar o suporte necessário as famílias que sofreram perdas. Segundo Magna Mattos, “o Katrina ajudou um pouco a manchar sua imagem e o seu papel de presidente pragmático em que para o Iraque as suas investidas são sempre muito rápidas e ‘eficientes’ e, as soluções para a grande devastação do Katrina vieram de modo lento e ineficiente.”

Em março de 2001 os EUA entram em uma recessão que durou até novembro e fez com que o PIB, que até 2000 crescia em média 5% ao ano, estagnasse em 1,1% (a menor taxa desde 1996). Mas, não foi o único disparate econômico do governo Bush, por que em março de 2007 o não pagamento dos critérios hipotecários se multiplicou e provocou as primeiras concordatas e falências de bancos especializados do setor causando uma retraída nas bolsas mundiais.

Os sinais de uma crise começam a se reforçar a partir de junho de 2007. O banco Bear Stearns anuncia um colapso de dois de seus fundos devido aos créditos subprimes. O presidente do Federal Reserve diz que a crise no mercado imobiliário é aguda e Bush se pronuncia garantindo ajuda as famílias com problemas, o plano para evitar a execução de hipotecas seria congelar por cinco anos os juros dos empréstimos hipotecários de alto risco.

Inevitavelmente o Fed, em janeiro de 2008, aumenta a taxa de juros para 4,5%, sendo a 14ª elevação consecutiva da taxa. Em março a crise já tinha atingido outros países e os Bancos Centrais procuram fazer esforços conjuntos para aliviar o mercado de créditos. Em setembro o Banco Lehman Brohters anuncia concordata, Merril Lynch é vendido de emergência para o Bank of America, o Fed e o governo dos EUA nacionalizam o grupo de seguros AIG, o anuncio do plano de resgate norte-americano contra a crise financeira faz com que as bolsas disparem. Em suma foi a pior crise experimentada pela até então economia mais sólida e estável dos tempos modernos, desde o crash de 1930.

O ano de 2008 começou e terminou mal para Bush. 270 presos que ainda estão detidos em Guantánamo, a pressão que exerceu sobre a Rússia para que não reconhecesse a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia e que não teve o resultado esperado, a sanção da lei que destina US$ 162 bilhões para despesas das guerras no Iraque e no Afeganistão e que também inclui uma verba para iniciativa mérida contra o narcotráfico em meio a uma crise econômica, o pacote de US$ 700 bilhões para socorrer as instituições financeiras afetadas, que não teve aprovação imediata. Bush que ao entrar no cargo herdou um superávit de US$ 651 bilhões deixa como legado um orçamento com déficit de US$ 438 bilhões sem considerar o pacote de US$ 700 bilhões.

Os oitos anos conturbados, e essencialmente a crise econômica que impactou economias do mundo inteiro se refletiram nessas eleições. Os dois partidos apostaram em candidatos que não se assemelham a postura do atual presidente. De um lado, o republicano, John McCain, de outro, o democrata, Barack Hussein Obama. Em um processo eleitoral que contou com a maior participação da história norte-americana desde 1908 (reeleição de Theodor Roosevel) quase 66% dos norte-americanos foram às urnas no dia 4 novembro e escolheram como próximo presidente Barack Obama.

O democrata que estava inovando na maneira de fazer campanha contou com uma grande e involuntária contribuição das publicidades negativas do atual presidente. A cientista política Magna analisa que “por todo esse conjunto de fatores e mais outros de ordem internos o que se pode notar é que tudo parece ter seu lado positivo, Bush deixou o melhor cabo eleitoral para Obama: a crise econômica. Ou não?”

Obama propôs intensificar a luta contra o terrorismo no Afeganistão e no Paquistão, retirar as tropas do Iraque até 2010, negociar com Irã, Sina, Coréia do Norte (que não pertence mais a lista negra, desde 11 de agosto de 200 8) e Cuba (já que Fidel Castro havia pedido a Bush que retirasse bloqueio). Rever a posição dos EUA sobre o protocolo de Kyoto, baixar os impostos dos mais pobres e aumentar o dos mais ricos, maior acesso ao sistema de saúde e de seguro desemprego, restaurar a liderança dos EUA como potência mundial, melhorar a educação das crianças, combater a pobreza no mundo, legalizar os imigrantes ilegais e reforçar o controle das fronteiras, também fazem parte das intenções do candidato.

Filho de mulçumanos, negro, criado em uma família sem as estruturas padrões norte-americana (pais separados), além disso, não é puramente estadunidense já que seu pai era queniano, são aspectos que poderiam influenciar a não escolha do candidato. Mesmo assim, Obama foi eleito o 44º presidente americano.

Barack (abençoado em árabe) se tornou a idealização e a personificação da perspectiva de uma era de esperança, paz e prosperidade, assim como aconteceu com Kennedy. E isso pôde contribuir para a sua vitória, mas não foi o único fator. O mestre em filosofia diz que: “acho que Obama é um pacificador. Se Bush era um guerreiro, de direita, preconceituoso, moralista… Obama passou uma imagem contrária, tanto pela sua fala quanto por sua história de vida. O mundo precisa agora de um governo equilibrado, depois desse exagerado Bush. Acho que foi isso que o elegeu.” A desestruturação do atual governo, que gerou manifestações anti-Bush, e a queda na popularidade de George Bush mostrou a insatisfação dos norte-americanos com o atual republicano, e a conseqüente idealização de Barack Obama.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Poema do Afetivograma

Poema do Afetivograma
O mês começou
Perdido, em depressão estou...
No fundo de um poço
Bem fundo...
Mas, olha, tem uma escadinha!

Subindo três degraus
Sorria!
Chegamos à hipotimia
(Não é o ideal,
Mas em tal estado
Qualquer coisa serviria...)
Mais um degrau, e... Eutimia!
Humor normal!!!
Hum, não sei, não garantiria...

Bom, já estou mais alegrinho
Tanto, que até vou subir mais um degrauzinho!
Hipertimia!!!
Planos, planos, planos, vai dar tudo certo,
Era o que eu temia!!!

Ansiedade, medo, euforia...
E aí vem a mania...
Mais um degrau, posso voar, super eu sou...
Super-homem!
(Putz! Esqueci a kriptonyta...)

E, com mais um degrau,
Estou mal...
Agora sou o vilão...
Paranóico!!!
(“Eles contra mim tramam
E querem o meu mal...”
Vou transformá-los
Em estátuas de Sal!”)

E do topo da escala final
Absolutamente lunático
Olho a humanidade e,
Impessoal, digo
(“Eu vos perdôo, meus filhos...
Mas, levem-me ao seu líder!”)

Realmente, isso está muito mal
Acho que, afinal
Requer-se uma intervenção
Alguma medicação...

Ácido Valpróico?
Obrigado, prefiro o sulfúrico!
Já usei, não me deixa pensar...
Lítio? Talvez... Duas doses, senhor...
Um ótimo estabilizador de humor...
Antipsicótico?
Isso seria o fim, não é pra tanto!
Antidepressivo? Vai bem, essa Fluoxetina
Tudo isso combinado
A um eventual benzadiazepínico
Muito bem dosado...

Começo a melhorar, talvez
A escadinha, do poço, descer...
Quero ficar aqui no meio, por favor...

E a curva vai decrescer
Voltando a oscilar, eu sei
Bem mais que mais de uma vez...

Estabilizar?
Um dia, que sabe...
Certo, doutora, prometo
Vamos acompanhar...

(Vou te confiar um segredo:
A bipolaridade é o jeito
Que os malucos inventaram
De andar de montanha-russa
E não pagar o ingresso
Ao dono do parque...)

Nota explicativa: o “afetivograma” é um gráfico de controle dos estados de humor, sugerido para o acompanhamento de pacientes de TAB; tais estados podem variar da depressão profunda a eutimia (humor normal); daí em diante caracterizam-se os estados de extrema energia (euforia) que pode descambar para a mania, onde a pessoa sente-se ansiosa, paranóica e tomada por pensamentos de superioridade ou ira. A oscilação desses estados de humor pode formar curvas tão oscilantes quanto uma montanha-russa, por isso é indispensável o “básico”: acompanhamento médico, uso algum anti-depressivo (como a Fluoxetina) associado a estabilizadores de humor (o ideal é o Lítio). Benzadiazepínicos são “calmantes”, usados com muita parcimônia apenas nos períodos de irritabilidade.

Senhores, não se apavorem! Não chego aos extremos aqui caricaturizados, mas o poema não teria graça se eu não exagerasse cada fase por que pode passar um bipolar...

Colegas de trabalhos, chefes e clientes... Isso é somente um poema... Vocês não podem provar nada contra mim... Ou os transformarei em estátuas de Sal! :)

Manuscritos Perdidos do Menino Triste (1)

Manuscritos Perdidos do Menino Triste (1)
Ainda não valsei...

O revólver na vitrine
Promete alívio instantâneo...
Os prédios altos me convidam
A voar...
As lâminas afiadas tentam meus pulsos
À carícia de seu toque...
Os comprimidos todos prometem
Um sono profundo...
Os carros me desafiam a deter sua louca marcha
Com a força de meu corpo...
Há de ser assim, pois os tempos mudaram
Já não há mais cicuta,
O arsênico anda escasso...
O concreto baniu as árvores altas, o suficiente
Para se armar uma forca...
A noite chega, com seus perigos intensos
A bela Dama de Negro me chama para a dança
Uma valsa envolvente e interminável...
Entre nós, uma esperança burra
Que dói fundo,
Mas insiste, insiste, insiste...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

EMBRIAGADO DE PODER

Tão embriagado que até vacilou na hora do juramento. O poder embriaga mais do que qualquer coisa.
A multidão gritando um mesmo nome, os telespectadores mundo afora prostrados diante das imagens da Pennsylvania Avenue, a elite inteira de Washington presente, de Bush pai caindo aos pedaços a Tedy Kennedy sendo levado às pressas ao hospital.
No discurso, apresentando-se como um salvador do mundo, jurando sobre uma Bíblia velha. Um novo cristo armado com bombas nucleares até os dentes ou um novo Rei Artur – como Kennedy – tendo ao lado as raposas mais velhacas do império?

O mundo ainda precisa de heróis. Estamos na mau.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

PRESIDENTES, MENTIRAS E VÔMITOS



O ultimo discurso de Bush como presidente foi jururu e triste. Clima de enterro. Melhor dizendo, clima de coveiro, responsável que foi pela morte prematura de milhares de pessoas mundo afora por obra de mísseis, bombas e balas. Quando pessoas que não estão montadas na sela do poder institucionalizado fazem o que ele fez dá-se o nome de terrorismo.

No entanto, a verdadeira imagem que Bush vai deixar é a de um presidente mentiroso. Mas não de um mentiroso qualquer. A mentira, afinal de contas, é o pão de cada dia dos que estão montados no poder. Sem mentira, o risco de cair é muito grande. Nesta linha de raciocínio, então, Bush vai entrar para a História (se entrar) como o presidente que não soube embalar suas mentiras, um presidente burro e truculento. Nem a Condoleezza Rice – esta sim, mestre na arte da mentira – conseguiu salvar seu governo da pecha de burro. Depois da mal sucedida aventura no Iraque à custa das mentiras mais grosseiras que se tem notícia na lama do poder, o rombo na economia mundial gerado pela crise do neoliberalismo fez com que muitos analistas colocassem a administração Bush entre as piores da História dos Estados Unidos.

Uma análise mais apurada dos oito anos de Bush vai relevar um aspecto mais sinistro. É bem possível que, em matéria de liberdades individuais, os EUA tenham recuado uns 80 anos. O Patriotic Act, editado no calor dos atentados de 11 de setembro, foi o ponto culminante do ataque às instituições de defesa da liberdade.

Triste o mandato deste presidente que se elegeu a primeira vez em 2000 à custa de fraude e só foi reeleito por causa dos atentados de 2001.

Depois de tamanha devastação, toma posse dia 20 de janeiro Barack Obama, já ungido pelos meios de comunicação como o restaurador da dignidade e da diplomacia dos Estados Unidos. Tememos que Obama va ser mais guerreiro do que Bush e Hillary Clinton vai nos dar saudades de Condoleezza Rice. Barack Obama vai fazer guerra, intervir onde for preciso, mas empregando a cartilha que um império deve ter no século XXI. Confabulando sempre com os aliados, restaurando a imagem do Conselho de Segurança da ONU como defensor da ordem mundial que beneficia os ricos e os bem armados.

Bush regalou-se demais da conta no banquete do poder, quase isolou o império, teve uma indigestão e vomitou todas as mentiras. Obama é mais sofisticado. Fez carreira como único senador negro nos Estados Unidos, conhece todos os labirintos políticos de Washington. Não é homem de vomitar mentiras. É do tipo que sabe guardá-las a sete chaves, para melhor reinar.

Oba-oba Obama.

Ufa, até que enfim, hoje, 20 de janeiro de 2009, termina a expectativa, a chuva de confetes, a badalação, a prostração dos que precisam de heróis na espera de que Obama repita a frase pronunciada pelos 43 presidentes que o antecederam, com excessão, alguns dizem, de George Washington.

So help me God!

Fora o fato de ser o primeiro presidente de origem africana dos EUA, Obama age e fala exatamente com o a elite estadunidense. É possível que o deus em questão seja o mesmo que tem seu olho estampado na nota de um dólar. Os banqueiros e chefes das multinacionais – salvo alguns que pecaram por excesso de ganância – estão satisfeitos e tranquilos.

A palestina de David

Israel intensificou seus ataques em Gaza iniciados dia 27 de dezembro, bombardeou hospitais e instalações da ONU e deu uma sonora banana aos apelos de trégua da Organização. A fúria dos ataques foi tão grande a ponto de deixar em segundo plano a crise econômica, que entrou na fase do desemprego em massa. Também, em parte, a matança em Gaza está eclipsando a festa da posse do novo capataz do império.

Vamos fazer previsões, digamos, a curto prazo:

1 – A trégua vai ser depois da posse. Aos apelos da ONU e de vários outros países, Israel simplesmente deu uma banana. Aos EUA o governo israelense tem de prestar continência, afinal é de lá que veem as armas e a grana.

2 – Vão aumentar as restrições nos territórios ocupados e o radicalismo vai intensificar, com os EUA fazendo o jogo de sempre, mantendo o Estado segregacionista de Israel, um Golias, ao lado de um estado de segunda classe dos palestinos, um Davi.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

É genocídio!

É genocídio!

Miguel D’Escoto, presidente da Assembléia Geral da ONU sobre a ação do exército israelense na Faixa de Gaza.

Ele odeia Israel!

Gabriela Shalev, embaixadora de Israel junto à ONU.

E nós perguntamos: de onde vem o atrevimento do governo israelense para desafiar todas instituições internacionais? Resposta fácil.
Vem do apoio irrestrito dos EUA.

Minha bola de cristal diz o seguinte: a atual matança termina na semana que vem, após a posse de Barack Obama. O novo capataz do império reafirma o apoio irrestrito ao protegidinho e ainda começa com fama de pacificador. E Israel simplesmente prossegue de modo velado sua política de tornar impossível a vida dos palestinos na Palestina.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Caiu a máscara

Já falamos e repetimos: Israel é o protegidinho do Império no Oriente Médio. Mais uma prova disso é a matéria do New York Times no fim de semana, relatando que os EUA impediram ataques israelenses contra as instalações nucleares do Irã no ano passado.
É isso, mesmo Bush, com seu fundamentalismo, sabe muito bem que o Irã não é Gaza e não é para ser atacado assim sem mais nem menos, sem consquências bem piores que a invasão do Iraque.
Na sexta-feira, a Câmara dos Deputados estadunidense aprovou – por 390 votos a cinco – resolução justificando a matança israelense em Gaza como sendo legítima defesa. E Barack Obama, pressionado numa entrevista à rede ABC, acabou confessando que vai aplicar no Oriente Médio uma política entre Bush e Clinton. Quer dizer, não vai mudar nada. Israel vai continuar matando os palestinos e os palestinos se defendendo como podem, com atentados semelhantes aos que os criadores de Israel executavam contra os colonialistas ingleses.

SARAMAGO X GAZA X ISRAEL

A sigla ONU, toda a gente o sabe, significa Organização das Nações Unidas, isto é, à luz da realidade, nada ou muito pouco. Que o digam os palestinos de Gaza a quem se lhes estão esgotando os alimentos, ou que se esgotaram já, porque assim o impôs o bloqueio israelita, decidido, pelos vistos, a condenar à fome as 750 mil pessoas ali registadas como refugiados. Nem pão têm já, a farinha acabou, e o azeite, as lentilhas e o açúcar vão pelo mesmo caminho. Desde o dia 9 de Dezembro os camiões da agência das Nações Unidas, carregados de alimentos, aguardam que o exército israelita lhes permita a entrada na faixa de Gaza, uma autorização uma vez mais negada ou que será retardada até ao último desespero e à última exasperação dos palestinos famintos. Nações Unidas? Unidas? Contando com a cumplicidade ou a cobardia internacional, Israel ri-se de recomendações, decisões e protestos, faz o que entende, quando o entende e como o entende. Vai ao ponto de impedir a entrada de livros e instrumentos musicais como se se tratasse de produtos que iriam pôr em risco a segurança de Israel. Se o ridículo matasse não restaria de pé um único político ou um único soldado israelita, esses especialistas em crueldade, esses doutorados em desprezo que olham o mundo do alto da insolência que é a base da sua educação. Compreendemos melhor o deus bíblico quando conhecemos os seus seguidores. Jeová, ou Javé, ou como se lhe chame, é um deus rancoroso e feroz que os israelitas mantêm permanentemente actualizado.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Blablablá, blablablá

Terminou nesta sexta-feira a reunião do Conselho de Segurança sobre a carnificina que Israel executa na Faixa de Gaza.

Foi o blablablá de sempre, originando uma resolução capenga pedindo que Israel cesse o ataque. Quatorze países aprovaram, os EUA se abstiveram e a ministra do Exteror israelense, Tzipi Livni, simplesmente respondeu, segura de que representa o país protegido pelo império no Oriente Médio:

Israel tem atuado, atua e seguirá atuando de acordo com suas necessidades.

Será que a ministra já tem, por baixo do pano, o aval de Barack Obama?

A SEMANA EM POUCAS LINHAS

Definitivamente, o banho de sangue em Gaza por conta do exército mais poderoso do Oriente Médio, (e é preciso dizer, armado e financiado pelos
Estados Unidos), foi o fato que eclipsou todos os outros na primeira semana de 2009. A reação desproporcional aos foguetes do Hamas por Israel, que ocupa quando quer os territórios palestinos, é apenas mais uma demonstração de que a paz não pode existir entre estados calcados em textos sagrados e num espaço tão pequeno.
Um cessar-fogo precário virá na certa depois da posse de Barack Obama dia 20 próximo, mas as sementes da contenda continuarão nas entrelinhas raivosas da Bíblia e do Corão. É o peso da tradição de milhares de anos. E, milagres, sabemos muito bem, não existem. Pode haver,
sim, revoluções, avanços bruscos que remetam judeus e palestinos a
colocar, em primeiro lugar, a única classificação que temos direito de defender com unhas e dentes: a de seres humanos.

E basta, porque isto não é resumo da semana. É um vômito de indignação.

domingo, 4 de janeiro de 2009

O Bipolar

É FODA o desalento de perceber que só eu, e mais ninguém, realmente sabe o que é uma crise de depressão severa, quando a dor de um corte profundo não é nada comparada ao desespero de querer sair daquela crise, da desesperança e da vontade de pular do 10º andar.
Será isso tudo condição para escrever como Faulkners, Hemingways, sem falar de Virginia Woolf, Tolstoy, Graham Greene, Ana Cristina Cesar? Não, definitivamente não. Todos eles e gênios como Van Gogh e Mozart sofriam de TAB. Não é necessário sentir uma profunda angústia por estar vivo para escrever sobre as dores de viver. Não é absolutamente necessário viver escravo das minhas oscilações bruscas de humor ou da estranha produção de neurotransmissores, para ver beleza no que é incerto e querer, sempre, dias mais densos.
Prefiro escrever posts medíocres e não publicar um conto genial ou um romance digno de nota. Prefiro não perder minha identidade recém recuperada, prefiro tomar mais aulas de otimismo. Prefiro trabalhar no que eu gosto com a regularidade. Prefiro sim, ser parte do establishment. Prefiro, mil vezes, amar as pessoas sem chocá-las com idas ao pronto socorro.
Prefiro não morrer como Faulkner (morreu bêbado) ou Hemingway (cometeu suicídio).
Prefiro escrever tudo isso aqui, saudável, em casa. Prefiro ter capacidade de cuidar de mim e de todas as pessoas que realmente são importantes para mim.
Para quem enxerga “nobreza na embriaguez” e “perda de autonomia” com a medicação, eu continuo minha via crucis, aquela da coragem, para dizer “você não sabe nada, meu caro”. E nem por isso eu sinto rancor de você e de tantas outras pessoas que, ao ouvirem de minha boca "sou bipolar e não vivo sem medicação”, franzem a testa. Escrever bem é uma arte. Controlar o que é aparentemente incontrolável é uma luta constante que, ao final, vale muito a pena. Posso dizer que entre mortos e feridos, cá estou.

A SEMANA EM POUCAS LINHAS

Foi-se a semana que levou com ela 2008, o ano da crise quase geral do capitalismo, porque a geral está sendo esperada desde que Marx escreveu no
Manifesto Comunista que ele, o capitalismo, tinha criado maravilhas maiores do que as pirâmides do Exito e as catedrais góticas, mas que estava fadado a ela, à crise geral. De qualquer maneira, a passagem de ano é apenas um piscar de olho simbólico e a crise continua com o fantasma do desemprego e pouca gente se dá conta que ela, a crise, poderia ser muito bem aproveitada para freiar o consumismo desvairado exaurindo o Planeta.
2008 – vamos lá ao balanço tradicional – foi também o ano do aguaceiro que matou adoidado em Santa Catarina e provocou estragos homéricos em Minas, São Paulo e Rio de Janeiro. O ano em que o Brasil assinou o contrato bilionário com a França para se abarrotar de armas E o daninho mosquito da dengue até perdeu para um concorrente pior, a mosca do poder que andou contaminando milhares de vereadores e prefeitos tomando posse no despertar de 2009. Todos eles no intenso aprendizado de manipular e controlar, alguns já com os olhos voltados para o Planalto, assim como em escala global os olhos estão voltados para a Pennsylvania Avenue onde se espera, dia 20, a posse do novo capataz do império.
O ano passou com muitos fogos de
artifício, o Rio se destacou, mesmo debaixo de chuva, mas Israel roubou a cena com sua tentativa de acabar com o Hamas à bomba. E os inocentes mortos na sanha desvairada do poder? Ah, os inocentes! Como dizia Rumsfeld, são apenas efeitos colaterais.
50 ANOS DA REVOLUÇÃO CUBANA

Foi na festa da chegada de 1959 que os guerrilheiros de Sierra Maestra assumiram o poder.
E foi exatamente aí que a revolução começou a morrer.
As revoluções morrem asfixiadas pelo próprio autoritarismo. Pior ainda quando cercadas por um império.

61 ANOS DE ISRAEL


Em guerra com o Hamas.
Mais uma demonstração de que estados sectários, discriminatórios, racistas em suas extremidades, não podem sobreviver juntos sem fazer brotar sangue, sobretudo numa cunha tão pequena.

Judeus e palestinos só podem sobreviver juntos quando deixarem de ser judeus e palestinos.