Não vamos
transformar a condenação de um cristão na nação persa como um embate entre
civilizações como deseja a mídia tendenciosa. É, sim, um desrespeito aos
direitos humanos, cuja carta o Irã é signatário. Mas não podemos deixar de
relacionar a emergência desse fato com a questão da imagem do Irã perante o
ocidente estar completamente desmoralizada e passível de intervenção militar. A
condenação dos apóstatas, aqueles que eram islâmicos e se convertem para outras
religiões, caiu como uma luva para os setores que temem a construção de um
arsenal nuclear por um país não alinhado, desequilibrando diretamente a balança
de poder de umas das áreas mais instáveis do mundo.
O Islã e a sharia não perseguem, necessariamente, civis pelo simples fato de possuírem
outro credo religioso. Sendo a liberdade de crença um princípio básico do
direito islâmico. Um exemplo disso é o fato de cristãos, judeus e islâmicos
terem vivido em paz durante séculos em Jerusalém sob o domínio do Império
Otomano. Contudo, um dos maiores crimes para o islamismo é renegar a fé. Os
apóstatas sofrem ostracismo e às vezes até a pena de morte. A meu ver é uma
clara violação ao direito internacional dos direitos humanos, em especial ao
art. 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e ao art. 18 do Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos. O Irã é signatário de ambas, mas não podemos permitir que esse fato seja usado para arrebatar opiniões contrárias sobre a ordem interna de uma país soberano e muito menos que esse fato seja, de certa forma, um subterfúgio para legitimar a guerra.