domingo, 11 de março de 2012

A intolerância cristã revestida de intolerância ao credo




Cara igreja não me venha com o falso moralismo que a retirada do símbolo cristão em repartições públicas é uma medida antidemocrática. A meu ver é sinal saudável que o Estado não faz mais a justiça moral de um deus, mas que, ao contrário, respeita a pluralidade do seu povo e não destaca nenhum credo sobre o outro em lugares que deve prezar não pelo vinculo religioso, mas pelo cumprimento da regra de um Estado democrático de direito.
Sobre o pretexto de cristianofobia que a civilização ocidental vem desenvolvendo a Igreja Católica se baseia em  uma grande  inverdade, devemos lembrar que o fato de não ser cristão não é condição para que a palavra de Cristo caia em desuso, o fato de não sermos mais um rebanho uniforme de ovelhas é sinal que a livre manifestação de credo e o intercâmbio cultural é característica de uma sociedade inserida em um panorama global maior que a disputa de instituições religiosas por crentes. O direito de desenvolver e assimilar conceitos que estão fora da filosofia da nossa cultura são um marco da civilização, o próprio Cristo foi um judeu que viveu sobre a pesada sombra do império romano, sendo posteriormente conduzido ao status de deus por essa civilização.
Dizer que a proposta do grupo de lésbica é uma medida antidemocrática é sinal que a Igreja não se acostumou com o seu lugar, no mesmo patamar com os outros credos, não podemos e nem devemos pensar que por constituir maioria somos passíveis de decisões unilaterais. Não há motivo para que a justiça agracie somente cristãos com seu símbolo religioso nas repartições públicas, o povo brasileiro é um conceito plural que abriga diferentes credos, filosofias e práticas. Não são as lésbicas é muito menos Cristo que não aceitam o homossexualismo, é a igreja católica que baseada em dogmas afirma uma medida preconceituosa contra uma parcela da população que tem os mesmos direitos e deveres abrigados sobre o seio da República. Essa alegação da Igreja é um exemplo de intolerância que a meu ver é reflexivo, uma vez que alega um abuso de uma parcela minoritária da população, mas acaba por ela própria cometer o abuso ao tentar legitimar a acusação por dois fatores: O fato de a população ser majoritariamente cristão não dá ao crucifixo o respaldo legal para continuar nas repartições públicas, fato que tenta suprimir o direito da minoria e legitimar o privilégio da maioria de ostentar símbolo religioso nas paredes de repartições públicas. Constitui abuso ao passo que ao se dizer representante da maioria tenta legitimar o não direito da minoria em fazer uso do seu direito assegurado pela lei e ainda, por ser representante da maioria tem o respaldo legal para legislar por esse grupo. É abuso por dizer que uma ação legal de uma minoria é ilegal por não agradar um credo.
O maior ensinamento de Cristo foi: "Amai-vos uns aos outros como a ti mesmo". As palavras do nazareno explicitam que em uma sociedade o homem devem se enxergar homem no semelhante e não esperar que o direito de um seja diferente do outro. Ser maioria não nos classifica como sendo “mais iguais” que os outros perante a lei, mas que estamos em uma sociedade calcada em direitos e valores iguais. A laicidade do Estado é símbolo máximo que podemos abrigar as mais variadas matizes de credo no seio da nossa sociedade, ir contra esse fato é tentar legitimar o privilégio, o racismo, a xenofobia e, por último, a desintegração social de um povo diverso.