Cara igreja não me venha com o falso moralismo que a retirada do símbolo
cristão em repartições públicas é uma medida antidemocrática. A meu ver é sinal
saudável que o Estado não faz mais a justiça moral de um deus, mas que, ao
contrário, respeita a pluralidade do seu povo e não destaca nenhum credo sobre
o outro em lugares que deve prezar não pelo vinculo religioso, mas pelo
cumprimento da regra de um Estado democrático de direito.
Sobre o pretexto de cristianofobia que a civilização ocidental vem
desenvolvendo a Igreja Católica se baseia em uma grande inverdade,
devemos lembrar que o fato de não ser cristão não é condição para que a palavra
de Cristo caia em desuso, o fato de não sermos mais um rebanho uniforme de
ovelhas é sinal que a livre manifestação de credo e o intercâmbio cultural é
característica de uma sociedade inserida em um panorama global maior que a
disputa de instituições religiosas por crentes. O direito de desenvolver e
assimilar conceitos que estão fora da filosofia da nossa cultura são um marco
da civilização, o próprio Cristo foi um judeu que viveu sobre a pesada sombra
do império romano, sendo posteriormente conduzido ao status de deus por essa
civilização.
Dizer que a proposta do grupo de lésbica é uma medida antidemocrática é
sinal que a Igreja não se acostumou com o seu lugar, no mesmo patamar com os
outros credos, não podemos e nem devemos pensar que por constituir maioria
somos passíveis de decisões unilaterais. Não há motivo para que a justiça
agracie somente cristãos com seu símbolo religioso nas repartições públicas, o
povo brasileiro é um conceito plural que abriga diferentes credos, filosofias e
práticas. Não são as lésbicas é muito menos Cristo que não aceitam o
homossexualismo, é a igreja católica que baseada em dogmas afirma uma medida
preconceituosa contra uma parcela da população que tem os mesmos direitos e
deveres abrigados sobre o seio da República. Essa alegação da Igreja é um
exemplo de intolerância que a meu ver é reflexivo, uma vez que alega um abuso
de uma parcela minoritária da população, mas acaba por ela própria cometer o
abuso ao tentar legitimar a acusação por dois fatores: O fato de a população
ser majoritariamente cristão não dá ao crucifixo o respaldo legal para
continuar nas repartições públicas, fato que tenta suprimir o direito da
minoria e legitimar o privilégio da maioria de ostentar símbolo religioso nas
paredes de repartições públicas. Constitui abuso ao passo que ao se dizer
representante da maioria tenta legitimar o não direito da minoria em fazer uso
do seu direito assegurado pela lei e ainda, por ser representante da maioria
tem o respaldo legal para legislar por esse grupo. É abuso por dizer
que uma ação legal de uma minoria é ilegal por não agradar um credo.
O maior ensinamento de Cristo foi: "Amai-vos uns aos outros como a
ti mesmo". As palavras do nazareno explicitam que em uma sociedade o homem
devem se enxergar homem no semelhante e não esperar que o direito de um seja
diferente do outro. Ser maioria não nos classifica como sendo “mais iguais” que
os outros perante a lei, mas que estamos em uma sociedade calcada em direitos e
valores iguais. A laicidade do Estado é símbolo máximo que podemos abrigar as
mais variadas matizes de credo no seio da nossa sociedade, ir contra esse fato
é tentar legitimar o privilégio, o racismo, a xenofobia e, por último, a
desintegração social de um povo diverso.