sábado, 23 de fevereiro de 2013

A hora da catarse Yankee


            Assisti "A hora mais escura" e não deixei de notar alguns fatos curiosos: Fora o bom-moçismo estadunidense e sua missão redentora de xerife do mundo é engraçado o fato de conseguirem transformar ícones de resistência em itens de consumo para o grande público. Ser hippie nos anos 60 é totalmente diferente de usar estampas coloridas e ares alternativos na atualidade, que é até admirado. Ser hippie é estar na moda estetica e cultivador de uma consciência de preservação planetária. O mesmo aconteceu com a bandeira dos Confederados e a estampa do Che (os jovens usam cliCHE abaixo do rosto do revolucionário). Me pergunto se daqui alguns anos a figura de Bin Laden se transformará também em item colecionável, semelhante a uma força negativa que se integra como uma figura universal da pessoa não desejada. O mais espetacular do capitalismo é que tudo vira peça de consumo, até mesmo os inimigos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Entre a pedra bruta e a pedra sabão



         Há momentos que nossa vida cotidiana e os acontecimentos aparentemente distantes ao olhar desavisado se entrecruzam e nos levam a fatos duplamente inusitados. O meu fato inusitado é que, sem pensar, e nem com ar crítico entrei em uma igreja na sua mais alta plenitude e artificial tranqüilidade. O outro fato, um tanto quanto “sui generis”,  é a renuncia de um Papa e o possível abalo sísmico na pedra de Pedro devido aos escândalos do clero.
         Será que há a mesma tranqüilidade dos jardins da Paróquia de Padre Eustáquio nos corredores brocados de ouro do Vaticano? Talvez, o que seja fato comum nesses dois ambientes sejam o olhar vago e o semblante de melancolia que os fiéis se olham entre os bancos e recitações bíblicas. Tanto o católico melancólico como a Igreja, entendida como instituição, se mostram desamparados pela simples falta de orientação que sua vida ou doutrina se depara frente aos tempos modernos. Tanto o católico como a Igreja se entreolham na espera que um deles faça a menção honrosa e, por fim, o brinde de morte em que cada um é o algoz natural do outro. O católico, mesmo que procure a igreja na sua busca por redenção, não encontra a panacéia esperada na doutrina. A doutrina, por sua vez, não penetra na vida cotidiana do fiel, não traduz o que o ouvido do crente espera ouvir e ao invés de ser a medicina passa-se ao veneno. Em suma, não há pastor sem rebanho e a ovelha sem o pastor segue o seu próprio desígnio.
           Acredito que entrei na Igreja com uma mistura de sentimentos entre a pena e o fetiche. Pena por aqueles que procuram em um deus, não a orientação, mas a trilha certa para se conduzirem como rebanho para o cercado do paraíso. O fetiche, por sua vez, seria o prazer de presenciar uma necessidade de mudança, que se não acertada, pode levar situações do cotidiano para cenários típicos de manuais de história ou até mesmo para o obscurantismo reservado a radicais descolados do tempo.
      A instituição Católica está entre a escolha de se dobrar as necessidades que a modernidade nos arrasta, lapidando a pedra bruta de São Pedro ou transformá-la na pedra sabão, que corroída pelo tempo, se desfaz.