segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Pastor do Fim do Mundo ou do Fim da Pedra?

     O Brasil é, sem dúvida, o quintal mais desejado de todo planeta. Obama foi o primeiro a romper uma tradição ao ser o condor do império que primeiro visita a ema do planalto, antes mesmo desta ir ao beija mão do novo rei. 
     Agora, o Francisco do Fim do Mundo vem ao Brasil cercar suas ovelhas antes mesmo de ir ao curral de origem. Sinal de que o rebanho brasileiro está mais gordo que o pobre charque argentino flagelado por uma década de estagnação e que as raízes da Igreja na América latina tem seu ponto pivotante no Brasil Católico. O fator inusitado reside no ponto em que o Papa do Fim do Mundo é, sem dúvida, o pastor que sai da Europa para buscar um novo berço ao catolicismo. Credo arrastado a soleira da porta pela secularização inerente à sociedade moderna e cada vez mais informatizada e individualista. 
     O Francisco, soldado da cristandade, tem como missão levar seu credo a lugares que ainda não foram manchados por essa secularização e seu maior inimigo é o protestantismo de muitos iletrados do fim do mundo. É nessa seara que a Igreja de Cristo pode conseguir um rebanho, sinal evidente que as coisas debaixo do equador sempre estiveram em uma amálgama diferente do debate original. O Brasil é, por excelência, uma tentativa tosca da repetição do debate externo, mas que se apropria e se transmuta em algo novo e contraditório a própria filosofia de origem. 
     As idéias aqui estão fora do seu lugar e de seu contexto, a Igreja se passa por uma falsa força moralizante em espaços de baixo desenvolvimento social. O "Calvino" latino, provavelmente, usará suas ferramentas tradicionais quando não por meio da típica bandeira vermelha será através das habituais chagas de cristo e figuras de catequese. Será por meio dessa natureza do atraso que tal filosofia já nasce senil e vacilante. Uma velhice que aconselha países com pandemia de AIDS a queimarem e descartarem preservativos e criminalizarem a construção e controle familiar por meio do mito do pecado bíblico original. 
      Não importa se é Francisco, Bento ou Anchieta, pois a Igreja jamais será a mesma e o salgado preço de resistir ao novo é ser esquecido pela história. O papa do fim do mundo é, naturalmente, o papa da mudança, da mudança que se faz tardia e de uma igreja que se tornou velha e defasada.
      O questionamento do rebanho latino é um fato que se intensificará cada vez mais e suponho que em 30 anos o cercado terá metade das ovelhas de nosso tempo. O mercado, como força social e histórica, já relegou a religião a um papel de segunda magnitude na construção e desenvolvimento social. Dizer que Cristo é o caminho é expressão de fanatismo, com sua importância restrita à manutenção do conhecimento e preservação de um passado histórico nada nostálgico. Cristo não é a Igreja e a Igreja nunca foi a instituição do Nazareno, mas uma advogada parcial que alega interesse próprio. Francisco, em suma, será lembrado por ser um Papa que procurou sanar a rachadura da Pedra que, ao invés de estátua, se lapidou no próprio túmulo.