segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A obsessão pela obsessão



            Nada mais tocante que uma paixão, a chama que, como disse o poeta, arde sem doer. Mas a paixão pela paixão é algo construtivo? A obsessão de um parnasiano pela métrica de uma ânfora grega ou de um compositor pela harmonia sonora de um soneto tem a mesma raiz da obsessão de um ardiloso serial killer que mata pela simples razão da morte. Até mesmo um Van Gogh capaz de pintar o brilho de um céu estrelado é capaz de arrancar sua própria orelha em busca do perfeito imperfeito.
            Antes de mais nada sou um obsessivo, maníaco pela perfeição que eu mesmo criei. Uma perfeição sem razão de ser, mas que me torna o imperfeito a luz de um raio sem saída. Talvez, ou com certeza, sou um obsessivo menor no talento, mas tão grande na dor. Sou incapaz de dormir sem o barulho de um ventilador, sem que todas as portas do armário estejam fechadas. As partes que gostava de um livro eu as decorava, no ensino médio não me permitia estudar menos que dez horas em casa. Quando fiz regime perdi metade de minha massa corpórea, quando cansei do ato, voltei a engordar o dobro. Ter uma meta e ser refém da mesma, são grandezas diametricamente opostas.
Por muito me senti um prisioneiro de mim mesmo, sem a capacidade de não realizar o que me propunha. O medo de não conseguir era tão grande que curvava aos meus próprios desejos. O martelo que martela até o prego e a madeira serem só uma substância, fundidas no desejo de tornar a simetria não uma busca espiritual, mas uma meta terrena.
            Leio durante dois dias sem parar, estudo até dormir sentado e ao mesmo tempo que sou o comediante me transformo no maior Scrooge da terra. Adoro o Natal, mas fico atacado no dia. Todo obsessivo é aquele que procura a mesma razão da vida na teoria que criou para si, mesmo que tal seja intangível. É claro que não haveria um Tchaikovski, Mozart, kant ou pelo menos, uma explicação para eles, sem o diagnóstico da bipolaridade.

            Qual o preço que tais figuras pagaram pelo mérito? Garanto que a perfeição pela forma não frutificou em uma vida plena, tanto no contato, como em uma estabilidade essencial a vida coletiva. Cito exemplos de gênio, uma vez que a obsessão só se faz presente e bonita pela eloquência, grandiosidade e beleza, mas se cala aos milhões de comuns que vivem refém de algo que criaram. Acredito que a quinta sinfonia não só deveria ser criada, mas também ter sido experimentada pelo seu criador. Bethovem, provavelmente, nunca sentiu o prazer da sua obra de arte, devido ao fato de sua obsessão nunca permiti-lo achar digno uma criação que não seja tão grandiosa quanto seu pensamento obsessivo. Ser obsessivo é ser o próprio algoz que fere si próprio até que o objeto do desejo se torne presente. O amor não pode ser uma obsessão e quem ama demais, no fim não ama a si mesmo.

Pequena nota sobre a debialidade Russa

Curioso como um Estado que passou por uma revolução social que abalou toda estrutura social de sua época mantenha uma postura social tão contraditória e, nas palavras dos próprios "companheiros", reacionária. O que difere essa Rússia da Rússia de um Czar que censurou o "'lado" gay de um Tchaikovsky? O herói da música erudita, maior que o próprio Wagner, teve sua casa lacrada por décadas pelo simples fato de ser um herói com o defeito de uma imperfeição moral "ontológica" e anterior a sua genialidade. Encontro colegas na faculdade que idolatram um Putin e se orgulham de ter reintroduzido a mão de ferro de um Stalin na política. Nunca concordarei com nenhuma política e movimento social que negue o ser humano em sua essência tanto na esfera do indivíduo como da inserção ao corpo social. Me alegra que todos os moralistas da história é reservado o espaço comum da vergonhosidade de uma Papa Alexandre, Hitler, Idi Amin, Karol Wojtyla e Príncipe Pontífice Francisco.