sexta-feira, 23 de maio de 2008

FILHOTE DA BOMBA FAZ ANIVERSÁRIO

A OTAN e sua távola redonda de guerra e agressão
A OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte –, reunida com pompa e circunstância no Palácio do Ceausescu em Bucareste, completa neste 4 de abril 59 anos de existência.

A OTAN é filhote da bomba atômica, tanto é assim que lá estava, no ato solene de sua instalação em 1947, o responsável pelo extermínio em massa em Hiroxima e Nagashaki, Henry Truman.

Além de filhote da bomba atômica, a Organização marca também a ascensão dos EUA como a maior potência do Planeta e a degradação da Grã-Bretanha à potência submissa, de segunda categoria. Antes da OTAN, a Liga das Nações era a filha do poderio naval britânico, mas já nasceu anêmica, com os dias contados, em 1919. A Liga foi gerada na carnificina da Primeira Guerra Mundial justamente quando um poder de fogo se elevava bem acima das armadas invencíveis da Grã-Bretanha: a aviação. A Segunda Guerra explodiu de vez com a Liga e a Grã-Bretanha só não foi invadida porque o império em ascensão entrou no conflito.

É sintomático que a Segunda Guerra Mundial tenha terminado no holocausto de duas cidades japonesas só habitadas por civis, sem qualquer importância estratégica ou militar. Nascia aí a palavra-chave que iria nortear a política exterior dos EUA e da futura OTAN: deterant, termo inglês que significa intimidação. Na verdade, nada de novo. A história conhecida de todos os impérios mostra que a intimidação foi sempre o guia de todos eles.

Os EUA e sua aliança estratégica, a OTAN, também não diferem dos impérios anteriores ao tentar embrulhar a deterant, a intimidação, com termos como defender a democracia. Do mesmo modo que Alexandre e Júlio César, quando pilhavam, massacravam e escravizavam em nome da civilização.

Pesquisei no Google a palavra OTAN e encontrei 4.790.000 entradas em 26 segundos. Achei pouco e fui ao termo NATO, sigla inglesa da organização. O número de entradas foi praticamente multiplicado por dez, atingindo 49.300.000 em 20 segundos. Portanto, é o caso de dizer que abundam informações sobre a OTAN, algumas muito boas, outras, a maioria, pura propaganda.

Há, no entanto, um ponto comum em toda a literatura sobre a Organização do Tratado do Atlântico Norte: ela foi criada originalmente para se defender da União Soviética, a potência extraviada, que contrapunha ao capitalismo ocidental um autoritário e pouco sofisticado capitalismo de Estado. Há notícias do além – que eu não sei como confirmar – sobre tremores no cemitério de Highgate, em Londres. Era Marx revirando-se na sepultura ao saber que tudo aquilo estava erigido em nome de seu comunismo teórico.

Em maio de 1955 – sete anos depois da criação da OTAN – a União Soviética e o chamado bloco socialista da Europa Oriental assinavam o Pacto de Varsóvia. O Pacto, na verdade, era uma cópia invertida da Aliança Atlântica na base do grito de D' Artagnan e dos três mosqueteiros: um por todos, todos por um. Principalmente todos pelo poder maior.

Chegou-se assim, vamos dizer, a uma confortável situação de equilíbrio durante o período que a história registra como o da guerra fria. O Pacto de um lado, a Aliança do outro, cada qual querendo defender o que era seu, mas sempre pensando em avançar um pouquinho mais. No início da década de 60 a eleição de Kennedy quase esquentou com fogo nuclear a guerra fria. Legítimo representante da aristocracia de Massachusetts, pensando que era um Rei Arthur dos novos tempos, Kennedy chegou a criar em Washington uma espécie de távola redonda de combate ao comunismo. Nem um passo adiante era a consigna. Instalar foguetes em Cuba era, para Kennedy, não um passo, mas um pulo adiante. Por pouco ao senhores da OTAN e do Pacto não apertaram os botões das ogivas nucleares.

Passado o susto, restabeleceu-se o equilíbrio confortável com a guerra fria nas nações ricas e as guerras quentes na periferia pobre: Vietnã, Angola, guerrilha e golpes de Estado na América Latina, etc e tal. A imprensa ocidental considerava tudo frio, segundo a teoria de que mil vietnamitas ou angolanos mortos valem, no máximo, um estadunidense ou europeu.

Bom, a União Soviética foi para o beleléu em 1991 e, com ela, o Pacto de Varsóvia. O que fazer com a OTAN? Muita gente chegou a pensar em seu fim. O senador belicista Richard Lugar disse sem meias palavras: a aliança se expande ou perde a função. Tinha toda a razão. Impérios não sobrevivem sem inimigos. Se não existem é preciso criá-los ou buscá-los onde quer que estejam. A primeira guerra do Golfo, em 1992, conduzida por Bush pai, contou com uma aliança ocidental. Era a OTAN camuflada. Presenciava-se o nascimento da nova ordem internacional que, ao invés de acabar com a OTAN, estendia sua ação a todos os oceanos do Planeta. Em 2003, a invasão do Iraque, ainda não teve na linha de frente a OTAN institucionalizada. Antes, a invasão do Afeganistão, iniciada a 7 de outubro de 2001 – menos de um mês após a queda das torres gêmeas – foi iniciada pelos EUA e seus aliados mais íntimos. Mas, por fim, na cúpula de Praga, em 2002, a OTAN assumiu o comando da chamada Força Internacional para Assistência a Segurança, no Afeganistão, iniciando sua primeira missão, sem máscara, fora da Europa.

É horrível e quase soa como piada de mau gosto ter de admitir que, para os EUA e a OTAN, os atentados de 11 de setembro caíram como uma dávida do céu. Bush e os cavaleiros de sua tacanha távola redonda puderam formular a tese do combate ao terrorismo em qualquer parte do mundo, estendendo o raio de ação da Aliança. Mas é evidente que isso é muito pouco para manter uma máquina de guerra das proporções da OTAN. Nessa cúpula em Bucareste, marcando o 59º aniversário da Organização, a questão de fundo é a criação do escudo contra mísseis balísticos. Quer dizer, o foco são as guerras imperiais futuras ou, melhor dizendo, a ameaça de guerras imperiais futuras. A ascensão da China e a tentativa de reerguimento da Rússia como potência nuclear de primeira categoria são as cartas principais para manter a nova OTAN com sua máquina de guerra e dominação sobre todos os continentes e oceanos do Planeta, especialmente onde há recursos energéticos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário