sábado, 12 de outubro de 2013

Ad eternum


É possível o novo sem o fim do velho? Esse ano decidi me arriscar, pular no abismo do novo, resolver antigo projetos e não temer a queda, mesmo que violenta. Há cinco anos cheguei no meu limite, no meu limite moral como indivíduo: Não só desejei a morte biológica, procurava a aniquilação da alma. Minha mente era atraída pela sensação de pular na caldeira de um vulcão com a finalidade de exterminar-me no sentido mais amplo, sem deixar rastro de minha passagem terrena. Será que no momento deste ato se dava o fim ou início de uma nova vida?
É muito fácil condenar um indivíduo por suas decisões, mas o que muitos se negam são os motivos da razão que levam à corrupção alheia. Os fatores são negligenciados, não se procura pensar o suicida como um indivíduo doente, mas uma pessoa menor ou menos digna. Hoje entendo o porquê, é mais cômodo transformar em um taboo do que ver os olhos do abismo: o suicídio convida as pessoas a pensarem o que são e não são todos que se orgulhariam do seu exercício moral. Nesse sentido o suicídio não é uma razão de cunho unicamente individual é resultado de um processo social como descrito por Durkheim. A anomia de um grupo em que seres procuram a saída na destruição física por não suportarem mais o ambiente no qual se inserem.
O pior de tudo para um suicida mal sucedido é o fato da continuidade, de existir à revelia da vontade e o insuportável fato de ainda respirarem. Nesse momento além dos problemas anteriores se passa a sentir os olhos curiosos do resto do grupo, o julgamento moral das pessoas que condenam para não lidarem consigo mesmas. É nesse momento que o suicida faz sua a escolha de fato: Ou aprende a resolver por si mesmo os seus problemas afetivos ou se entregar aos olhos famintos e inquisidores. Decifra-te ou devora-te!
Provavelmente, essa tentativa de incursão ao mundo dos mortos não me tenha sido totalmente infrutífera. Se não aprendesse a lidar comigo, eu não poderia mais existir como indivíduo e estaria a condenado a viver eternamente pela sombra da minha alma eclipsada.

Qual a razão de ter escrito tudo isso? O texto poderia ser normalmente considerado dois textos avulsos, mas é exatamente o oposto: iniciei no relato de um quase fim para propor um novo começo! Este blog teve início durante a minha depressão e me sinto responsável em lhe dar um fim menos eloquente que minha finalidade anterior. Só se pode iniciar um novo capítulo ao colocar o ponto final no imediatamente anterior, deste modo despeço (despito-me) do Caminhos Dialéticos para começar uma nova jornada. Sinto que a vida de hoje é maior que a vida de antes e se não nos permitimos fluir não poderemos evoluir como seres humanos. Faço, assim, minhas as últimas palavras que meu amado avô me disse: Até logo! 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Sobre o propósito e a finalidade da tragédia cotidiana


Há uma grande diferença entre pensar a humanidade como um fator material e problematiza-la como um fator derivado da sua humanidade. Falam-se dos pobres, dos refugiados como um problema exato, econômico, analítico, concreto, e não como um problema humano e moral. Desrespeitam todo um universo psicológico, social e político do qual leva uma sociedade a gerar tais mazelas a ponto de comprometer a vida de milhões. É cômodo pensar o problema como alheio ao universo, por mais que as tragédias do cotidiano nos bata a porta e diga que se não há uma falha, existe um problema de ordem social que gera mortes “acidentais” diariamente.
Talvez seja esse o principal problema, só a partir do instante que pensamos a humanidade como fator social e não como resultado de extrapolações econômicas que as causas de um problema social encontram suas soluções e a “tragédia do cotidiano” se tornem uma tragédia inaceitável. Existe uma dificuldade inerente de se pensar a humanidade no macro, em seu coletivo, e não em propósitos individuais. A classe médica é radicalmente contrária a vinda de médicos cubanos, mas igualmente contrária a se aventurarem no sertão norte de Minas ou no Cariri escaldante do nordeste. 
A tragédia silenciosa do cotidiano é menos grave ou menos escandalosa que a tragédia inesperada? No final o que difere o propósito da finalidade? Hipócrates garante o direito e a manutenção da vida, mas o que diz o interesse econômico? Uma vez perguntaram a um jovem da Alemanha recém unificada se o povo alemão acreditava na possibilidade de um novo Hitler, ao passo que respondeu: “Não! Somo educados demais para isso.” Essa educação me dá um medo profundo, a nossa sociedade está educada demais! Politizada ao ponto de dizer que um Cubano é um escravo, de afirmar que as médicas estrangeiras tem cara de domesticas e não "colocam" respeito no paciente. Ora bolas, paciente não precisa de imposição, precisa de aconselhamento médico. 
Deixo as lições morais reservados aqueles que acreditam na igreja e vão se confessar aos domingos.
No fundo, academia nunca formou ninguém, forma, sim, para uma razão econômica e não para um dilema social. Meu queridos amigos médicos que gostam de dizer em alto e bom som que sua profissão é um sacerdócio moderno, onde está o evangelho que leva aos rincões? Por mais que seja inaceitável existe a vida humana no Norte de Minas, existe o ribeirinho, o sertanejo, o pé descalço. Não sejamos egoístas de pensar que não valha ser médico ou a vida não tenha valor nesses lugares. A vida é vida, e a razão econômica que tem finalidade em si.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A obsessão pela obsessão



            Nada mais tocante que uma paixão, a chama que, como disse o poeta, arde sem doer. Mas a paixão pela paixão é algo construtivo? A obsessão de um parnasiano pela métrica de uma ânfora grega ou de um compositor pela harmonia sonora de um soneto tem a mesma raiz da obsessão de um ardiloso serial killer que mata pela simples razão da morte. Até mesmo um Van Gogh capaz de pintar o brilho de um céu estrelado é capaz de arrancar sua própria orelha em busca do perfeito imperfeito.
            Antes de mais nada sou um obsessivo, maníaco pela perfeição que eu mesmo criei. Uma perfeição sem razão de ser, mas que me torna o imperfeito a luz de um raio sem saída. Talvez, ou com certeza, sou um obsessivo menor no talento, mas tão grande na dor. Sou incapaz de dormir sem o barulho de um ventilador, sem que todas as portas do armário estejam fechadas. As partes que gostava de um livro eu as decorava, no ensino médio não me permitia estudar menos que dez horas em casa. Quando fiz regime perdi metade de minha massa corpórea, quando cansei do ato, voltei a engordar o dobro. Ter uma meta e ser refém da mesma, são grandezas diametricamente opostas.
Por muito me senti um prisioneiro de mim mesmo, sem a capacidade de não realizar o que me propunha. O medo de não conseguir era tão grande que curvava aos meus próprios desejos. O martelo que martela até o prego e a madeira serem só uma substância, fundidas no desejo de tornar a simetria não uma busca espiritual, mas uma meta terrena.
            Leio durante dois dias sem parar, estudo até dormir sentado e ao mesmo tempo que sou o comediante me transformo no maior Scrooge da terra. Adoro o Natal, mas fico atacado no dia. Todo obsessivo é aquele que procura a mesma razão da vida na teoria que criou para si, mesmo que tal seja intangível. É claro que não haveria um Tchaikovski, Mozart, kant ou pelo menos, uma explicação para eles, sem o diagnóstico da bipolaridade.

            Qual o preço que tais figuras pagaram pelo mérito? Garanto que a perfeição pela forma não frutificou em uma vida plena, tanto no contato, como em uma estabilidade essencial a vida coletiva. Cito exemplos de gênio, uma vez que a obsessão só se faz presente e bonita pela eloquência, grandiosidade e beleza, mas se cala aos milhões de comuns que vivem refém de algo que criaram. Acredito que a quinta sinfonia não só deveria ser criada, mas também ter sido experimentada pelo seu criador. Bethovem, provavelmente, nunca sentiu o prazer da sua obra de arte, devido ao fato de sua obsessão nunca permiti-lo achar digno uma criação que não seja tão grandiosa quanto seu pensamento obsessivo. Ser obsessivo é ser o próprio algoz que fere si próprio até que o objeto do desejo se torne presente. O amor não pode ser uma obsessão e quem ama demais, no fim não ama a si mesmo.

Pequena nota sobre a debialidade Russa

Curioso como um Estado que passou por uma revolução social que abalou toda estrutura social de sua época mantenha uma postura social tão contraditória e, nas palavras dos próprios "companheiros", reacionária. O que difere essa Rússia da Rússia de um Czar que censurou o "'lado" gay de um Tchaikovsky? O herói da música erudita, maior que o próprio Wagner, teve sua casa lacrada por décadas pelo simples fato de ser um herói com o defeito de uma imperfeição moral "ontológica" e anterior a sua genialidade. Encontro colegas na faculdade que idolatram um Putin e se orgulham de ter reintroduzido a mão de ferro de um Stalin na política. Nunca concordarei com nenhuma política e movimento social que negue o ser humano em sua essência tanto na esfera do indivíduo como da inserção ao corpo social. Me alegra que todos os moralistas da história é reservado o espaço comum da vergonhosidade de uma Papa Alexandre, Hitler, Idi Amin, Karol Wojtyla e Príncipe Pontífice Francisco.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Pastor do Fim do Mundo ou do Fim da Pedra?

     O Brasil é, sem dúvida, o quintal mais desejado de todo planeta. Obama foi o primeiro a romper uma tradição ao ser o condor do império que primeiro visita a ema do planalto, antes mesmo desta ir ao beija mão do novo rei. 
     Agora, o Francisco do Fim do Mundo vem ao Brasil cercar suas ovelhas antes mesmo de ir ao curral de origem. Sinal de que o rebanho brasileiro está mais gordo que o pobre charque argentino flagelado por uma década de estagnação e que as raízes da Igreja na América latina tem seu ponto pivotante no Brasil Católico. O fator inusitado reside no ponto em que o Papa do Fim do Mundo é, sem dúvida, o pastor que sai da Europa para buscar um novo berço ao catolicismo. Credo arrastado a soleira da porta pela secularização inerente à sociedade moderna e cada vez mais informatizada e individualista. 
     O Francisco, soldado da cristandade, tem como missão levar seu credo a lugares que ainda não foram manchados por essa secularização e seu maior inimigo é o protestantismo de muitos iletrados do fim do mundo. É nessa seara que a Igreja de Cristo pode conseguir um rebanho, sinal evidente que as coisas debaixo do equador sempre estiveram em uma amálgama diferente do debate original. O Brasil é, por excelência, uma tentativa tosca da repetição do debate externo, mas que se apropria e se transmuta em algo novo e contraditório a própria filosofia de origem. 
     As idéias aqui estão fora do seu lugar e de seu contexto, a Igreja se passa por uma falsa força moralizante em espaços de baixo desenvolvimento social. O "Calvino" latino, provavelmente, usará suas ferramentas tradicionais quando não por meio da típica bandeira vermelha será através das habituais chagas de cristo e figuras de catequese. Será por meio dessa natureza do atraso que tal filosofia já nasce senil e vacilante. Uma velhice que aconselha países com pandemia de AIDS a queimarem e descartarem preservativos e criminalizarem a construção e controle familiar por meio do mito do pecado bíblico original. 
      Não importa se é Francisco, Bento ou Anchieta, pois a Igreja jamais será a mesma e o salgado preço de resistir ao novo é ser esquecido pela história. O papa do fim do mundo é, naturalmente, o papa da mudança, da mudança que se faz tardia e de uma igreja que se tornou velha e defasada.
      O questionamento do rebanho latino é um fato que se intensificará cada vez mais e suponho que em 30 anos o cercado terá metade das ovelhas de nosso tempo. O mercado, como força social e histórica, já relegou a religião a um papel de segunda magnitude na construção e desenvolvimento social. Dizer que Cristo é o caminho é expressão de fanatismo, com sua importância restrita à manutenção do conhecimento e preservação de um passado histórico nada nostálgico. Cristo não é a Igreja e a Igreja nunca foi a instituição do Nazareno, mas uma advogada parcial que alega interesse próprio. Francisco, em suma, será lembrado por ser um Papa que procurou sanar a rachadura da Pedra que, ao invés de estátua, se lapidou no próprio túmulo.

sábado, 9 de março de 2013

A DIVINDADE DA ESCURIDÃO



            Na caverna da minha alma o fogo crepita, o fogo estala contra a realidade. A sombra turva para mim é nítida e sua nitidez me diz a verdade, a verdade me sussurra grandeza. A verdade de uma luz que minha alma deseja conhecer. A grandeza de um homem, homem não! Senhor que mudou o mundo! Salvou a humanidade de si mesma! Mudou o destino dos povos! Adorai o Senhor! Não precisamos mais da luz, a Sombra é grande e tem os contornos que destroem meus medos! Todos querem um lugar sob a luz, mas nos temos a Sombra e isso nos basta! Não se discute a Sombra, porque ir contra a Sombra é negar sua família, sua terra, sua tradição, é vencer seu medo e querer ver a LUZ.
            A sombra do Senhor projeta um Deus, não seria monstro? Monstro não! A projeção do fogo não mente! Quem precisa do fogo quando se vê o vulto? O vulto já diz tudo e sua promessa irá trazer um reino de 1000 anos! Há a promessa de nos purificarmos em meio à fuligem da sombra. Salve a Sombra!
            Há escravos rebeldes que não se ajoelham diante da Sombra, e procuram o fogo. Hereges! Caça aos hereges! Como duvidar da Sombra de tamanha grandeza? Expulsem-nos do reino, do reino não, do universo! Essa praga está a serviço do mal e vão condenar  a todos a serventia de um Senhor ruim. A Sombra caminha com os antigos iniciados, os antigos guerreiros andarilhos que sumiram em uma ilha sob a névoa de Avalon!
            Como duvidar de nossa própria ontologia? Esqueceu de nossas veias a escorrerem o sangue que um dia vai purificar o mundo? A verdade é a Sombra e a escuridão é mera insensatez de quem não quer ver o esplendor na fuligem. A Sombra nos iguala, a Sombra nos cobre no escuro, a Sombra tira meus traços, a Sombra anula minha imagem, a Sombra me asfixia. A SOMBRA ME MATA!

Marta, Dona Marta, Mãe, Mãezinha, Mamãe


          Mãe, como escrever um texto sobre você? Assusta-me o fato de você completar 50 anos, mas o que quer dizer tal grandeza? O que é o tempo? O que é amor? O que é a vida? Você será sempre a pessoa a qual procuro resposta quando tudo parece se desmanchar no ar. O que isso me difere do menino de 2 anos que ainda procurava o que de mamar e o refúgio no seu peito? Não importa qual seja a pergunta, seja ela uma indagação típica da infância ou da dor da existência adulta, a resposta vai estar sempre em você, no seu olhar e no carinho.
            Se tudo é assim tão igual como no princípio o que é o tempo? Mãe, o que é o tempo? Talvez uma grandeza menor do que seja a vida e do que seja a nossa vivência. Não existe idade para uma mãe. Mãe e filho são títulos de nobreza que se iniciam na existência recíproca e se prolongam ao tamanho infinito do amor.  Se eu sou filho enquanto você é mãe, qual é o fio que nos une? Mãe, o que nos une? É o cordão da placenta? É o primeiro abraço? É o primeiro afago? Não mãe! É o amor, o nosso laço é o amor! Mãe e filho se confundem, é um só enquanto são dois porque o que os une é só amor. Ser filho é amar a mãe e ser mãe é amar o filho! Mãe, o tempo importa? Mãe, o tempo importa? Se o tempo é só o tempo e o amor é o que nos define. Então o tempo não importa!. Importa é o amor que só existe enquanto filho e você enquanto mãe!

                                                                                                                     
                                                                              João, Joãozinho, seu filho.