domingo, 15 de janeiro de 2012

Por que o Deus bíblico se oculta nas sombras?


Afirmo de inicio que escrevo esse artigo não para provar a existência do Deus bíblico, mas para descrever a razão pelo qual, caso ele exista, nunca se pronunciou diretamente e nem o fará.
Se deus se revela-se ao homem, não haveria, de primeira mão, a civilização. A maior realização mundana do homem teria sido um pequeno altar de pedras para a adoração DELE e nunca se realizaria nenhuma proeza tecnológica e muito menos científica. Seriamos eternamente condenados a nos alimentar somente de restos dos sacrifícios, de padecer de doenças e infecções banais e o maior ensinamento serio o culto ao olho de fogo que tudo vê e tudo sabe.
Caso ao olharmos para o céu nos deparássemos com o rosto ditatorial  rodeado de arcanjos com lâminas de fogo, o homem teria tamanho medo que não precisaríamos construir o leviatã de Hobbes, o egoísmo do homem já teria sido consumido pela subserviência e adoração do Senhor dos Céus e da Terra.
Seríamos uma orda de lacaios marchando pela superfície terrestre sobre a mercê dos desejos divinos, esperando que um dia nossas preces fossem atendidas. Embora o problema do egoísmo humano já houvesse sido contornado pela presença do Senhor, ainda não seríamos capazes de fazer nada que nos fosse desejável, uma vez que os homens encarregariam de fazer todo o possível para que ninguém atraísse a ira dos céus, portanto cada um se encarregaria de controlar o outro. Não seria permitido domar o intemperismo natural, pois o homem só aceitaria para si o espírito de contemplação, o homem não desenvolveria a agricultura e a fome seria uma constante. A entenderíamos com uma provação dos céus e o mais feliz dos homens seria o que ficasse o maior tempo em pé sem comer.
Caso houvesse algo sobre as nuvens nos controlando, o homem não seria homem, seria mais um ser da natureza, lacaio da própria sorte. Não haveria raciocínio, o homem seria apenas mais um animal a vagar faminto sobre os campos sem a esperança de dias melhores

João Antônio Nicoli Tavares

2 comentários:

  1. A autodeterminação humana só coexiste com a possibilidade deista à luz do livre-arbítrio. Caso contrário, é isso mesmo: seres autômatos sob os desígnios da divindade.

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  2. Boa, João. Só gostaria de acrescentar um ponto, ou melhor, explicitá-lo O deus bíblico talvez já conhecesse de antemão o que viria escrever Betrand Russel e não queria aparecer na forma de bezerro de ouro ou de bule voador. O mistério, o imponderável, o imensurável, o onipotente e sobretudo o inexplicável estão em sua própria essência. O Cristianismo, subproduto bíblico, acabou permitindo na facção católica o culto de criaturas da corte divina, entre elas o filho de deus, gerado e concebido no Planeta Terra. Os protestantes, como é sabido, restauraram entre eles o princípio bíblico de não simbolizar deus. Mas a cúpula católica, reunida e torno dos papas, também semeou a dúvida sobre a verdadeira imagem de deus. Cristo crucificado é apenas a imagem do filho de deus, esse está no triângulo inexplicável de pai, filho e espírito santo. A santíssima trindade da qual, é interessante observar, o gênero feminino foi excluído. Mas isso é uma discussão a parte. O que fica claro é que a Bíblia e todas as religiões derivadas têm como preocupação fundamental proibir qualquer representação material de deus. Ainda que crentes não respeitem, o catolicismo proibe taxativamente a adoraçao dos santos, adjetivo exclusivo da entidade deus. E Jesus? Quando morria na cruz, ele teria dito: “Pai perdoa-os porque eles não sabem o que fazem.” Isso aí é uma baita contradição com a ideia inexplicável da santíssima trindade, pois deixa claro que Jesus teria sido apenas um instrumento.

    E aqui chegamos ao ponto crucial do livre arbítrio. Se ele existir num mundo criado por um deus onipotente, onipresente, além do tempo e do espaço, é difícil até imaginar a possibilidade de tamanha liberdade. Atualmente, parece que a física quântica apresenta novas luzes sobre a interação de tempo e espaço, mas, aí, caímos no campo da Ciência. Na perspectiva bíblica, a explicação do livre arbítrio num mundo regido por um deus único, tem de recorrer à mitologia, sendo a própria Bíblia a mitologia de três das maiores religiões: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Um círculo vicioso. Estou fora. E que os deus vão todos para o inferno, regido pelo capeta, que parece
    ter uma face mais humana. Amém.


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