Raízes do Brasil usa um
método que possibilita a reflexão, pois usa uma metodologia que expõe um jogo
de oposição e contraste, impedindo o dogmatismo e abre espaço para meditação
dialética.
Nesse
aspecto o autor irá apresentar a dicotomia de modelos ideais/puros como os
representados pelo trabalho e pela aventura. A ética do trabalho seria um
fenômeno como descrito por Weber como uma forma de organização social típica
dos países protestantes em que há uma valoração do trabalho, a precedência do
interesse de longo prazo sobre o de curto prazo, o controle racional, e a
vantagem da cooperação sobre o personalismo. A ética da aventura é representada
por um tipo de homem que ignora as fronteiras, que procura a riqueza de rápido
alcance, não valora o trabalho e muito menos abstrações mentais por meio da
racionalidade.
A
colonização da América, em contraste com os países protestantes, teria se dado
por uma lógica da aventura que não se pautou pela construção de uma sociedade
ou matriz econômica capitalista. A lavoura de cana foi uma expressão da
exploração aventureira que não primou pela construção de uma civilização
agrícola, mas uma apropriação rudimentar do meio que aliada ao trabalho escravo
contribuiu para não valorização do trabalho. Essa construção da sociedade
brasileira propiciou o surgimento do homem cordial, que é avesso as relações de
impessoalidade inerente do Estado moderno, preferindo reduzí-las ao padrão
pessoal e afetivo. O homem cordial seria uma negação do modo de vida ascético
do protestante, com um espírito contemplativo que gera estranheza a inquietude
moral típica dos países protestantes. Esse homem teria então dificuldade de
distinguir as relações relativas à esfera pública com as relações inerentes a
vida privada. Criou-se, assim, um estado patrimonialista que sofre de uma
imobilidade burocrática e se prolonga em esferas que não deveria atuar, sendo
institucionalmente frágil e com um modelo democrático questionável.
Sergio
Buarque irá introduzir o conceito de “Nossa Revolução” que mostrará o embate
entre as forças que procuram racionalizar o mundo frente à dissolução da nossa
herança ibérica, gerando contradições não resolvidas na estrutura social,
política e ideológica de nossa cultura. É um embate de forças que começaram com
o fim da escravidão, o surgimento da lavoura do café e a crescente urbanização
de nossa sociedade. A formação de um espaço público por meio das cidades e a
construção de uma matriz econômica capitalista proporciona o enfraquecimento do
nosso passado ibérico, condenando o homem cordial ao desaparecimento, e a
racionalização da esfera individual, cultural e do Estado e a possível formação
da nossa ética do trabalho.
BATATA!
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