terça-feira, 27 de novembro de 2012

A ética do trabalho na terra do Homem Cordial.


            Raízes do Brasil usa um método que possibilita a reflexão, pois usa uma metodologia que expõe um jogo de oposição e contraste, impedindo o dogmatismo e abre espaço para meditação dialética.
           Nesse aspecto o autor irá apresentar a dicotomia de modelos ideais/puros como os representados pelo trabalho e pela aventura. A ética do trabalho seria um fenômeno como descrito por Weber como uma forma de organização social típica dos países protestantes em que há uma valoração do trabalho, a precedência do interesse de longo prazo sobre o de curto prazo, o controle racional, e a vantagem da cooperação sobre o personalismo. A ética da aventura é representada por um tipo de homem que ignora as fronteiras, que procura a riqueza de rápido alcance, não valora o trabalho e muito menos abstrações mentais por meio da racionalidade.               
            A colonização da América, em contraste com os países protestantes, teria se dado por uma lógica da aventura que não se pautou pela construção de uma sociedade ou matriz econômica capitalista. A lavoura de cana foi uma expressão da exploração aventureira que não primou pela construção de uma civilização agrícola, mas uma apropriação rudimentar do meio que aliada ao trabalho escravo contribuiu para não valorização do trabalho. Essa construção da sociedade brasileira propiciou o surgimento do homem cordial, que é avesso as relações de impessoalidade inerente do Estado moderno, preferindo reduzí-las ao padrão pessoal e afetivo. O homem cordial seria uma negação do modo de vida ascético do protestante, com um espírito contemplativo que gera estranheza a inquietude moral típica dos países protestantes. Esse homem teria então dificuldade de distinguir as relações relativas à esfera pública com as relações inerentes a vida privada. Criou-se, assim, um estado patrimonialista que sofre de uma imobilidade burocrática e se prolonga em esferas que não deveria atuar, sendo institucionalmente frágil e com um modelo democrático questionável.
         Sergio Buarque irá introduzir o conceito de “Nossa Revolução” que mostrará o embate entre as forças que procuram racionalizar o mundo frente à dissolução da nossa herança ibérica, gerando contradições não resolvidas na estrutura social, política e ideológica de nossa cultura. É um embate de forças que começaram com o fim da escravidão, o surgimento da lavoura do café e a crescente urbanização de nossa sociedade. A formação de um espaço público por meio das cidades e a construção de uma matriz econômica capitalista proporciona o enfraquecimento do nosso passado ibérico, condenando o homem cordial ao desaparecimento, e a racionalização da esfera individual, cultural e do Estado e a possível formação da nossa ética do trabalho.

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