sábado, 22 de dezembro de 2012

Aos hipócritas morais ou cegos da fé do mercado


         O capitalismo criou maravilhas maiores que as pirâmides egípcias, mas também criou o vencedor pequeno burguês que por muitas vezes é, no mínimo, o idiota de uma moralidade torta, defensor da honra imaginética de um passado distante, se não ilusório. Para haver vencedores se torna inevitável à existência da imagem do perdedor, consumido pela vergonha de não poder consumir não só mercadorias, mas a imagem ideal da própria existência.
Não se criou nenhuma sensação melhor e mais indigna do que a de possuir, no sentido não somente de ser senhor de si, mas possuir a capacidade de controle e de decisão do outro, do menos igual à óptica mercadológica. É nesse sentido que o ser que se considera “um mais igual” pelo status socioeconômico é um grande mal informado do seu status como cidadão. Desconhece que o espaço público deve-se privar pela igualdade moral da lei e não pelo subterfúgio do usual e não menos condenado jeitinho brasileiro. Não espanta o fato de o Brasil possuir tantos idiotas dessa magnitude, uma vez que a ideia do agregado é muito arraigada na cultura, à figura do indivíduo que só existe quando apadrinhada pelo senhor. Em uma sociedade tão desigual como o Brasil ser igual não é uma idéia desejável, ser igual é enfrentar as filas do SUS, ser o meliante de nascimento, o retirante nordestino, o indivíduo pelo qual o Estado se faz cego.
O “vencedor” é a casta na ponta da pirâmide, não tão magnífica como a egípcia, mas a igualmente colossal e socioeconomicamente amoral como a brasileira. O individuo que “vence” o meio não se importa de reproduzi-lo nas suas relações de poder, pois no fundo é tão perdedor como o outro “perdedor” por considerar tal relação como à causa natural de toda uma sociedade e ser, por natureza, seu modo operante.
É nesse sentido que se deve criar uma moralidade renovada que consiga fugir do senso de natureza econômica do direito, que beira ao privilégio. Enquanto existir a desigualdade gritante e amoral haverá os ilusórios vencedores de uma sociedade derrotada pela incapacidade de organização social e cívica e o pior de tudo, haverá defensores do modelo da cordialidade. 

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