O
capitalismo criou maravilhas maiores que as pirâmides egípcias, mas também criou
o vencedor pequeno burguês que por muitas vezes é, no mínimo, o idiota de uma
moralidade torta, defensor da honra imaginética de um passado distante, se não ilusório.
Para haver vencedores se torna inevitável à existência da imagem do perdedor,
consumido pela vergonha de não poder consumir não só mercadorias, mas a imagem
ideal da própria existência.
Não
se criou nenhuma sensação melhor e mais indigna do que a de possuir, no sentido
não somente de ser senhor de si, mas possuir a capacidade de controle e de decisão
do outro, do menos igual à óptica mercadológica. É nesse sentido que o ser que
se considera “um mais igual” pelo status socioeconômico é um grande mal
informado do seu status como cidadão. Desconhece que o espaço público deve-se
privar pela igualdade moral da lei e não pelo subterfúgio do usual e não menos
condenado jeitinho brasileiro. Não espanta o fato de o Brasil possuir tantos
idiotas dessa magnitude, uma vez que a ideia do agregado é muito arraigada na
cultura, à figura do indivíduo que só existe quando apadrinhada pelo senhor. Em
uma sociedade tão desigual como o Brasil ser igual não é uma idéia desejável,
ser igual é enfrentar as filas do SUS, ser o meliante de nascimento, o
retirante nordestino, o indivíduo pelo qual o Estado se faz cego.
O
“vencedor” é a casta na ponta da pirâmide, não tão magnífica como a egípcia,
mas a igualmente colossal e socioeconomicamente amoral como a brasileira. O
individuo que “vence” o meio não se importa de reproduzi-lo nas suas relações de
poder, pois no fundo é tão perdedor como o outro “perdedor” por considerar tal
relação como à causa natural de toda uma sociedade e ser, por natureza, seu
modo operante.
É
nesse sentido que se deve criar uma moralidade renovada que consiga fugir do
senso de natureza econômica do direito, que beira ao privilégio. Enquanto
existir a desigualdade gritante e amoral haverá os ilusórios vencedores de uma
sociedade derrotada pela incapacidade de organização social e cívica e o pior
de tudo, haverá defensores do modelo da cordialidade.
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