sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Homeland e o inimigo oculto



            Relutei muito em começar a assistir Homeland e fiquei um pouco surpreso com um relato, no mínimo, pernicioso de como é tratado o terrorismo pela óptica do drama. Não que haja uma forma correta dessa prática, mas que a desinformação é tão perigosa quanto o radicalismo barato.
Trata-se basicamente da desconfiança da lealdade de um soldado que ficou preso na mão de terroristas por oito anos e, pode ser um agente duplo elevado ao status de herói nacional. Toda a dúvida paira a partir de uma agente da CIA que oculta, por sua vez, uma enfermidade mental, provavelmente uma variante da esquizofrenia. É de duvidas sobre duvidas que se desenvolve a série e o medo que o trauma de um novo ato terrorista em solo estadunidense se repita.
A série se revela, assim, um excelente drama psicológico e não poderia ser diferente. Toda a dúvida é a paráfrase perfeita do medo estadunidense. A existência de um inimigo oculto, que não possui face definida, atuando sobre disfarces que arrebatam não só a segurança de um país, mas os baluartes fundadores da nação. Questiono se tal medo deveria ser comercializado na forma de seriado e que não estaria na hora de fazer um balanço da década passada e das perdas humanas e financeiras que causou.
Sem dúvida ainda não há contornos do fim da cruzada no oriente médio, e que o império pode, facilmente, encontrar apoiadores naqueles que temem uma narrativa em que eles próprios contribuíram para a sua construção. O folhetim revela aspectos ainda mais profundos, a agente psicótica não se questiona moralmente se é válido invadir a privacidade de uma família abalada pela guerra em prol de um suposto ataque. É violando os direitos individuais que, caracteristicamente, tornou o estadunidense singular que se baseia a série. Em momentos que se colocam em cheque a segurança estatal é válida a quebra das regras civis, mas o que seria um assunto de segurança e quão dispostos estaria à população para abrir mão dos seus direitos? É perigoso transformar um estado democrático em um estado de segurança em que o medo é o fator fundamental e que norteia a vida cotidiana. A série revela que o público não questiona se é que já questionou tal fato, e que Hollywood não fábrica mais somente sonhos, mas que agora também contribui para que se reproduza o medo.

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