Relutei muito em começar a assistir Homeland
e fiquei um pouco surpreso com um relato, no mínimo, pernicioso de como é
tratado o terrorismo pela óptica do drama. Não que haja uma forma correta dessa
prática, mas que a desinformação é tão perigosa quanto o radicalismo barato.
Trata-se
basicamente da desconfiança da lealdade de um soldado que ficou preso na mão de
terroristas por oito anos e, pode ser um agente duplo elevado ao status de herói
nacional. Toda a dúvida paira a partir de uma agente da CIA que oculta, por sua
vez, uma enfermidade mental, provavelmente uma variante da esquizofrenia. É de
duvidas sobre duvidas que se desenvolve a série e o medo que o trauma de um
novo ato terrorista em solo estadunidense se repita.
A
série se revela, assim, um excelente drama psicológico e não poderia ser
diferente. Toda a dúvida é a paráfrase perfeita do medo estadunidense. A existência de um
inimigo oculto, que não possui face definida, atuando sobre disfarces que
arrebatam não só a segurança de um país, mas os baluartes fundadores da nação. Questiono
se tal medo deveria ser comercializado na forma de seriado e que não estaria na
hora de fazer um balanço da década passada e das perdas humanas e financeiras
que causou.
Sem
dúvida ainda não há contornos do fim da cruzada no oriente médio, e que o império
pode, facilmente, encontrar apoiadores naqueles que temem uma narrativa em que
eles próprios contribuíram para a sua construção. O folhetim revela aspectos
ainda mais profundos, a agente psicótica não se questiona moralmente se é
válido invadir a privacidade de uma família abalada pela guerra em prol de um
suposto ataque. É violando os direitos individuais que, caracteristicamente,
tornou o estadunidense singular que se baseia a série. Em momentos que se colocam em cheque a segurança estatal é válida a quebra das regras
civis, mas o que seria um assunto de segurança e quão dispostos estaria à
população para abrir mão dos seus direitos? É perigoso transformar um estado democrático
em um estado de segurança em que o medo é o fator fundamental e que norteia a
vida cotidiana. A série revela que o público não questiona se é que já questionou
tal fato, e que Hollywood não fábrica mais somente sonhos, mas que agora também
contribui para que se reproduza o medo.
it's the american dream
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