sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Entre a pedra bruta e a pedra sabão



         Há momentos que nossa vida cotidiana e os acontecimentos aparentemente distantes ao olhar desavisado se entrecruzam e nos levam a fatos duplamente inusitados. O meu fato inusitado é que, sem pensar, e nem com ar crítico entrei em uma igreja na sua mais alta plenitude e artificial tranqüilidade. O outro fato, um tanto quanto “sui generis”,  é a renuncia de um Papa e o possível abalo sísmico na pedra de Pedro devido aos escândalos do clero.
         Será que há a mesma tranqüilidade dos jardins da Paróquia de Padre Eustáquio nos corredores brocados de ouro do Vaticano? Talvez, o que seja fato comum nesses dois ambientes sejam o olhar vago e o semblante de melancolia que os fiéis se olham entre os bancos e recitações bíblicas. Tanto o católico melancólico como a Igreja, entendida como instituição, se mostram desamparados pela simples falta de orientação que sua vida ou doutrina se depara frente aos tempos modernos. Tanto o católico como a Igreja se entreolham na espera que um deles faça a menção honrosa e, por fim, o brinde de morte em que cada um é o algoz natural do outro. O católico, mesmo que procure a igreja na sua busca por redenção, não encontra a panacéia esperada na doutrina. A doutrina, por sua vez, não penetra na vida cotidiana do fiel, não traduz o que o ouvido do crente espera ouvir e ao invés de ser a medicina passa-se ao veneno. Em suma, não há pastor sem rebanho e a ovelha sem o pastor segue o seu próprio desígnio.
           Acredito que entrei na Igreja com uma mistura de sentimentos entre a pena e o fetiche. Pena por aqueles que procuram em um deus, não a orientação, mas a trilha certa para se conduzirem como rebanho para o cercado do paraíso. O fetiche, por sua vez, seria o prazer de presenciar uma necessidade de mudança, que se não acertada, pode levar situações do cotidiano para cenários típicos de manuais de história ou até mesmo para o obscurantismo reservado a radicais descolados do tempo.
      A instituição Católica está entre a escolha de se dobrar as necessidades que a modernidade nos arrasta, lapidando a pedra bruta de São Pedro ou transformá-la na pedra sabão, que corroída pelo tempo, se desfaz. 

2 comentários:

  1. Caríssimo Jota,
    Minhas inquietudes em relação as religiões continuam densas. Mas tenho trilhado o caminho de aceitação da necessidade que o homem tem de se agarrar a esperança mágica de alguma salvação, ainda que em outro plano. A falta de esclarecimento, a violência cotidiana e banalizada, a corrupção...todos os males que o mundo vive transformam a humanidade numa bola de pêlos que é facilmente arrastada por qualquer corrente de ar. Nutro profundas esperanças que alguns rompimentos ainda virão e que o homem buscará esperança em si em uma relação de comunhão com a mãe terra. O encantamento deve vir do natural, do reencontro de nos vermos como natureza. A fantasia da pedra pilar, deve ser substituída pela realidade, mas como disse no começo, caminho p/ aceitação, pq o diálogo tem que se fazer presente para semear a reflexão, a crítica...é preciso pisar no chão, arar a terra e ter boas sementes.

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  2. Faltou uma vírgula depois de presente. rs Digitar em celular é uma merda.

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