Há momentos que nossa vida cotidiana
e os acontecimentos aparentemente distantes ao olhar desavisado se entrecruzam
e nos levam a fatos duplamente inusitados. O meu fato inusitado é que, sem
pensar, e nem com ar crítico entrei em uma igreja na sua mais alta plenitude e
artificial tranqüilidade. O outro fato, um tanto quanto “sui generis”, é a renuncia de um Papa e o possível abalo sísmico
na pedra de Pedro devido aos escândalos do clero.
Será que há a mesma tranqüilidade dos
jardins da Paróquia de Padre Eustáquio nos corredores brocados de ouro do
Vaticano? Talvez, o que seja fato comum nesses dois ambientes sejam o olhar
vago e o semblante de melancolia que os fiéis se olham entre os bancos e
recitações bíblicas. Tanto o católico melancólico como a Igreja, entendida como
instituição, se mostram desamparados pela simples falta de orientação que sua
vida ou doutrina se depara frente aos tempos modernos. Tanto o católico como a
Igreja se entreolham na espera que um deles faça a menção honrosa e, por fim, o
brinde de morte em que cada um é o algoz natural do outro. O católico, mesmo
que procure a igreja na sua busca por redenção, não encontra a panacéia esperada
na doutrina. A doutrina, por sua vez, não penetra na vida cotidiana do fiel,
não traduz o que o ouvido do crente espera ouvir e ao invés de ser a medicina
passa-se ao veneno. Em suma, não há pastor sem rebanho e a ovelha sem o pastor
segue o seu próprio desígnio.
Acredito que entrei na Igreja com
uma mistura de sentimentos entre a pena e o fetiche. Pena por aqueles que
procuram em um deus, não a orientação, mas a trilha certa para se conduzirem
como rebanho para o cercado do paraíso. O fetiche, por sua vez, seria o prazer
de presenciar uma necessidade de mudança, que se não acertada, pode levar situações
do cotidiano para cenários típicos de manuais de história ou até mesmo para o
obscurantismo reservado a radicais descolados do tempo.
A instituição Católica está entre a
escolha de se dobrar as necessidades que a modernidade nos arrasta, lapidando a
pedra bruta de São Pedro ou transformá-la na pedra sabão, que corroída pelo
tempo, se desfaz.
Caríssimo Jota,
ResponderExcluirMinhas inquietudes em relação as religiões continuam densas. Mas tenho trilhado o caminho de aceitação da necessidade que o homem tem de se agarrar a esperança mágica de alguma salvação, ainda que em outro plano. A falta de esclarecimento, a violência cotidiana e banalizada, a corrupção...todos os males que o mundo vive transformam a humanidade numa bola de pêlos que é facilmente arrastada por qualquer corrente de ar. Nutro profundas esperanças que alguns rompimentos ainda virão e que o homem buscará esperança em si em uma relação de comunhão com a mãe terra. O encantamento deve vir do natural, do reencontro de nos vermos como natureza. A fantasia da pedra pilar, deve ser substituída pela realidade, mas como disse no começo, caminho p/ aceitação, pq o diálogo tem que se fazer presente para semear a reflexão, a crítica...é preciso pisar no chão, arar a terra e ter boas sementes.
Faltou uma vírgula depois de presente. rs Digitar em celular é uma merda.
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