quarta-feira, 6 de março de 2013

A uma “Estranha” com amor



            Há pequenas lições familiares que persistem no decorrer dos anos e que aos poucos vão se sedimentado e assumindo feições variadas ao longo da nossa existência individual. Uma dessas lições aprendi com minha mãe e que nunca  abandonei é o fato de acreditar que conhecemos realmente uma pessoa ao analisar seus pequenos atos e comportamentos cotidianos e concluir que se não há bondade pelo menos se há honestidade moral por detrás. 
            Tudo aparentava ser um final de tarde típico de uma quarta-feira entediante pela aula conceitualmente nebulosa de Estatística até que a teoria materna se mesclasse com a realidade na forma de madona!  Ao chegar à Cultura Inglesa percebo a ausência do meu iPhone e entro em desespero, sabia que não só havia ficado dentro do ônibus, mas que, provavelmente, não o veria mais. Ligo para o numero do celular já sem esperança de que haveria resposta quando uma voz de uma moça gentil atende e diz que está tudo bem, que estaria em certo local tal hora e não haveria problema em devolver o aparelho.
            Esse fato desassociado de contexto parece ser uma banalidade recorrente e que estaria eu a escrever tal relato por mera casualidade ou elucubração estéril, mas acho que não se trata disso. Não tenho dúvida que honestidade e compromisso com o próximo seja algo que não deva ser visto como qualidade, mas como peça fundamental para se viver em coletividade. Mas convido ao leitor a pensar se tal fato é uma característica de nossos tempos. Por se rara tal atitude se torna cara ao público, e tudo que há em ausência se torna valioso pela essência. Não elogiar a atitude da moça não seria a aceitação de que seu ato é mero formalismo social e não necessita de ressalva, mas o colocar na esfera de experiências individuais que se perdem e não se reproduzem em sua essência. Tornando um fato menor em situações em que o exemplo é louvável.
            Ao entregar meu celular a Carol me diz que não deveria lhe fazer tantos elogios, pois seu ato não era se quer uma opção. Era a única ação esperada de uma pessoa que encontra um aparelho tão caro largado no ônibus e que teria certeza que eu agiria da mesma maneira se os papéis estivessem trocados. Encerro o texto agradecendo tal “Estranha” por ter me mostrada uma faceta que às vezes se mostra tão escassa e incomum em nossa selva de pedra urbana que apaga o homem e o torna um ser desfocado em meio à multidão. Agradecer a minha “Estranha” favorita é agradecer a mim mesmo, pois obtive a certeza que a honestidade compensa e que há um humano por trás da mascara do sujeito apagado pela massa urbana.
            Acredito que a Carol nunca chegará a realmente ler esse texto, mas que os demais estranhos ao deparar com tal escrita se vejam tão nobres como a minha “Estranha” favorita e que no meio de “Estranhos” sempre há o SER HUMANO capaz de exercer seu aspecto moral.



O perfeito valor consiste em fazer, sem testemunhas,
o que se faria diante de todos.
François de La Rochefocauld

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