quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

RETROSPECTIVA BUSH (2001-2009)

Depois de oito anos como presidente da maior potência mundial George Walker Bush termina seu mandato, oficialmente em 20 de janeiro de 2009, querendo ser lembrado como um bom governante e não só pela guerra do Iraque. O professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Jelson Oliveira, mestre em filosofia, explica que “Bush não foi só um mau presidente porque fez a guerra, mas porque espalhou pelo mundo uma belicosidade petulante que consolidou uma imagem negativa exteriormente, mas também internamente, no que diz respeito ao governo do país. Não é à toa que os índices de desaprovação de seu governo são tão altos e a atual crise econômica mostra a ineficiência de seu governo em solucionar os problemas que vinham se acumulando há tempos”.

Nascido em 6 de julho 1946, em Connecticut. Casado com Laura Welch Bush, pai das gêmeas Barbara e Jenna. Trabalhava como gerente geral do Texas Range até que foi eleito governador, foi o primeiro a ser reeleito consecutivamente. Concorreu pela primeira vez à presidente em 2000, contra o democrata Al Gore e apesar do empate foi considerado eleito por uma decisão do judiciário. Fato que entrou para história americana por que nunca tinha havido interferência de nenhum poder nas eleições presidencialistas, bem como o marco de ser a eleição mais cara desde 1960, quando John Fitzgerald Kennedy, o presidente mais jovem dos EUA, foi eleito.

Durante a campanha para o primeiro mandato Bush tinha como promessas: reforma das escolas públicas, modernização do Social Security e do Medicare, o incentivo a instituições religiosas para que trabalhassem juntamente com o Estado para auxiliar os norte-americanos carentes, aumento dos investimentos em sistemas de armas de alta tecnologia, criação de benefícios militares, como a melhora dos salários e o apoio ao desenvolvimento de sistemas antimísseis. Na política de impostos propôs um corte de US$ 483 bilhões em cinco anos, simplificação no sistema de arrecadação de tributos e a diminuição de taxas para todos os norte-americanos.

Contra o aborto e o casamento homossexual, no primeiro dia como presidente, Bush bloqueou a ajuda federal a grupos estrangeiros que oferecem aconselhamento ou qualquer outra assistência para mulheres que fazem abortos. Ao longo dos dois mandatos o presidente enfrentaria certas crises de popularidade e várias manifestações populares por não ser favorável a essas práticas.

Durante o primeiro período de governo, houve outras situações em que as decisões de Bush não contaram com o apoio favorável dos norte-americanos e, em alguns casos, do mundo, dentre elas a recusa em implementar o Protocolo de Kyoto e a rejeição em assinar um documento internacional que proibia armas biológicas (de 56 países somente os EUA negaram o acordo). De acordo com a socióloga e cientista política Magna Mattos Cruz, a postura militarista do presidente deixou um déficit na economia americana e o impacto causado para o mundo fez com que se tornasse o presidente mais antipopular da Casa Branca.

No entanto, com o ataque de 11 de setembro de 2001 - em que foram seqüestrados 4 aviões sendo que dois atingiram o World Trade Center, um o pentágono e o último foi encontrado na Pensilvânia - Bush tomou medidas mais enérgicas, e declarou guerra contra o terrorismo e Osama Bin Laden (principal suspeito de ter planejado os ataques), com isso atingiu o ápice de notoriedade e, com aproximadamente 90% aprovação, se tornou o presidente mais popular da história americana. A socióloga explicou que as “falhas no governo Bush, apesar do sistema presidencialista, ambos tem a causa na figura dele, mas da conjuntura que se formou depois do 11 de setembro e das orientações do partido republicano, conseguiu com argumentos ‘reais’ para por em prática políticas belicistas.”

Juntamente com o Reino Unido, em 7 de outubro de 2001, os Estados Unidos iniciam ataques aéreos ao Afeganistão. Devido à luta contra o terrorismo, Bush institui o patriot act em que diminui a liberdade e amplia os poderes de repressão e violência. Exatamente dois meses depois dos ataques o Taleban anuncia a rendição total de Candahar e Mulá Omar desaparece. No entanto, as tropas permanecessem no país e somente em maio de 2003 o secretário de defesa anuncia o fim das principais operações de combate.

Em janeiro de 2002, Bush apresenta o eixo do mal (Irã, Iraque e Coréia do Norte) países que supostamente desenvolviam armas de destruição em massa e financiavam grupos extremistas. De acordo com o professor Jelson Oliveira, Bush conta com apoio de igrejas radicais de direita. “Esse fato faz com que o seu governo moralize e ideologize além do aceitável. Então, em primeiro lugar, devemos pensar nas famosas expressões eixo do mal, guerra justa, justiça no deserto e tantas outras. Não sei se ele inventou isso, mas o seu governo exagera ao se auto proclamar um governo do bem e taxar todos os outros de mal. De qualquer modo, é bom lembrar que a invenção de um inimigo faz parte da estratégia de um governo bélico – é preciso de inimigos para mostrar poder frente às demais nações, realizar guerras é uma forma de movimentar a economia. Pelo menos na cabeça de alguns assessores de Bush.”

Em dezembro de 2007, o relatório da inteligência americana divulgou que o Irã teria suspendido o programa nuclear militar em 2003. “O eixo do mal já teve várias definições, de acordo com o contexto da época e o presidente em jogo. O eixo é estrategicamente importante para os EUA devido ao combustível fóssil que os norte-americanos mais prezam, e nele baseiam o funcionamento efetivo do seu consumismo. As guerras das religiões sempre existiram na história da humanidade, às vezes caminham juntas e harmônicas, conforme os interesses, e às vezes tornam-se inimigas mortais” declara a socióloga.

Na política interna desenvolve um método para melhorar o desempenho das escolas públicas, o ato no child left behind. Bush, em 6 de agosto de 2002, assume uma postura totalitarista ao estabelecer a lei do fast track, que concede ao presidente plenos poderes para negociar acordos comerciais sem precisar da aprovação do congresso, além disso, garantia que ninguém está apto a vetar a decisão presidencial. Mesmo com a lei em vigor desde 2002, Bush só a utilizou pela primeira vez no segundo mandato.

Em junho os EUA desenvolvem um programa para derrubar Saddam Hussein (presidente iraquiano). Alguns meses depois proclamam a nova política de segurança externa que consistia em impedir que qualquer país atinja um poderio militar equivalente. Na política interna, nos EUA, há mais limitações dos direitos civis e os imigrantes podem ser presos sem acusações formais. No segundo mandato a lei Military Commissions permite que os militares persigam ao invés de julgarem do modo tradicional os combatentes inimigos.

Em março de 2003 inicia-se a guerra do Iraque que conta com o apoio de mais de 20 nações. A principio a ONU não apoiava, mas depois de um mês autoriza a presença de uma ‘autoridade provisória de coalizão’ que seria os EUA. Ao longo de toda a ocupação norte-americana no Iraque varias manifestações, passeatas e movimentos eclodem nos EUA.

Em dezembro, as tropas norte-americanas capturam o presidente foragido, Saddam Hussein, e o levam para a cadeia de Guantánamo. Fotos e vídeos das torturas feitas aos prisioneiros de guerra vazam para a internet, assim como o vídeo da execução de Saddam (30 de dezembro de 2006), e por causa do impacto que as imagens despertam na população a popularidade de Bush começa a decair e fomentam os protestos anti-Bush em todo o mundo.

A opinion research busisness, em janeiro de 2008 revelou que mais de um milhão de iraquianos morreram desde a invasão e que um em cada cinco lares perdeu no mínimo um membro da família entre março de 2003 e agosto de 2007 por causa da violência. Em fevereiro de 2007 a câmara aprova uma resolução contra o envio de tropas ao Iraque, mas Bush veta assim com ao prazo de retirada do exercito norte-americano.

Apesar de todas as críticas, protestos e queda na popularidade Bush consegue se reeleger (com 50,7% dos votos). Na campanha para o segundo mandato, as propostas eram: compromisso com a guerra do Iraque e do Afeganistão, leis mais efetivas contra o aborto e o casamento homossexual, reforma no Social Security, crédito de carbono para controlar a emissão do poluente, guestworker (programa temporário para incentivar a imigração). O professor Jelson Oliveira explicou que “os norte-americanos aos poucos se deram conta da ineficiência do governo Bush. A política bélica trouxe os efeitos indesejados: as famílias recebendo seus mortos. E o bloqueio de informações, a tentativa de alienação da população e a força de algumas entidades que dentro dos Estados Unidos têm lutado por uma democracia verdadeira, com política social e respeito aos direitos humanos: isso contribuiu para que a população se desse conta do governo que tinha.”

O furacão Katrina atinge o sul dos EUA, em agosto de 2005, e abala a já instável imagem do presidente, visto que o governo não conseguiu dar o suporte necessário as famílias que sofreram perdas. Segundo Magna Mattos, “o Katrina ajudou um pouco a manchar sua imagem e o seu papel de presidente pragmático em que para o Iraque as suas investidas são sempre muito rápidas e ‘eficientes’ e, as soluções para a grande devastação do Katrina vieram de modo lento e ineficiente.”

Em março de 2001 os EUA entram em uma recessão que durou até novembro e fez com que o PIB, que até 2000 crescia em média 5% ao ano, estagnasse em 1,1% (a menor taxa desde 1996). Mas, não foi o único disparate econômico do governo Bush, por que em março de 2007 o não pagamento dos critérios hipotecários se multiplicou e provocou as primeiras concordatas e falências de bancos especializados do setor causando uma retraída nas bolsas mundiais.

Os sinais de uma crise começam a se reforçar a partir de junho de 2007. O banco Bear Stearns anuncia um colapso de dois de seus fundos devido aos créditos subprimes. O presidente do Federal Reserve diz que a crise no mercado imobiliário é aguda e Bush se pronuncia garantindo ajuda as famílias com problemas, o plano para evitar a execução de hipotecas seria congelar por cinco anos os juros dos empréstimos hipotecários de alto risco.

Inevitavelmente o Fed, em janeiro de 2008, aumenta a taxa de juros para 4,5%, sendo a 14ª elevação consecutiva da taxa. Em março a crise já tinha atingido outros países e os Bancos Centrais procuram fazer esforços conjuntos para aliviar o mercado de créditos. Em setembro o Banco Lehman Brohters anuncia concordata, Merril Lynch é vendido de emergência para o Bank of America, o Fed e o governo dos EUA nacionalizam o grupo de seguros AIG, o anuncio do plano de resgate norte-americano contra a crise financeira faz com que as bolsas disparem. Em suma foi a pior crise experimentada pela até então economia mais sólida e estável dos tempos modernos, desde o crash de 1930.

O ano de 2008 começou e terminou mal para Bush. 270 presos que ainda estão detidos em Guantánamo, a pressão que exerceu sobre a Rússia para que não reconhecesse a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia e que não teve o resultado esperado, a sanção da lei que destina US$ 162 bilhões para despesas das guerras no Iraque e no Afeganistão e que também inclui uma verba para iniciativa mérida contra o narcotráfico em meio a uma crise econômica, o pacote de US$ 700 bilhões para socorrer as instituições financeiras afetadas, que não teve aprovação imediata. Bush que ao entrar no cargo herdou um superávit de US$ 651 bilhões deixa como legado um orçamento com déficit de US$ 438 bilhões sem considerar o pacote de US$ 700 bilhões.

Os oitos anos conturbados, e essencialmente a crise econômica que impactou economias do mundo inteiro se refletiram nessas eleições. Os dois partidos apostaram em candidatos que não se assemelham a postura do atual presidente. De um lado, o republicano, John McCain, de outro, o democrata, Barack Hussein Obama. Em um processo eleitoral que contou com a maior participação da história norte-americana desde 1908 (reeleição de Theodor Roosevel) quase 66% dos norte-americanos foram às urnas no dia 4 novembro e escolheram como próximo presidente Barack Obama.

O democrata que estava inovando na maneira de fazer campanha contou com uma grande e involuntária contribuição das publicidades negativas do atual presidente. A cientista política Magna analisa que “por todo esse conjunto de fatores e mais outros de ordem internos o que se pode notar é que tudo parece ter seu lado positivo, Bush deixou o melhor cabo eleitoral para Obama: a crise econômica. Ou não?”

Obama propôs intensificar a luta contra o terrorismo no Afeganistão e no Paquistão, retirar as tropas do Iraque até 2010, negociar com Irã, Sina, Coréia do Norte (que não pertence mais a lista negra, desde 11 de agosto de 200 8) e Cuba (já que Fidel Castro havia pedido a Bush que retirasse bloqueio). Rever a posição dos EUA sobre o protocolo de Kyoto, baixar os impostos dos mais pobres e aumentar o dos mais ricos, maior acesso ao sistema de saúde e de seguro desemprego, restaurar a liderança dos EUA como potência mundial, melhorar a educação das crianças, combater a pobreza no mundo, legalizar os imigrantes ilegais e reforçar o controle das fronteiras, também fazem parte das intenções do candidato.

Filho de mulçumanos, negro, criado em uma família sem as estruturas padrões norte-americana (pais separados), além disso, não é puramente estadunidense já que seu pai era queniano, são aspectos que poderiam influenciar a não escolha do candidato. Mesmo assim, Obama foi eleito o 44º presidente americano.

Barack (abençoado em árabe) se tornou a idealização e a personificação da perspectiva de uma era de esperança, paz e prosperidade, assim como aconteceu com Kennedy. E isso pôde contribuir para a sua vitória, mas não foi o único fator. O mestre em filosofia diz que: “acho que Obama é um pacificador. Se Bush era um guerreiro, de direita, preconceituoso, moralista… Obama passou uma imagem contrária, tanto pela sua fala quanto por sua história de vida. O mundo precisa agora de um governo equilibrado, depois desse exagerado Bush. Acho que foi isso que o elegeu.” A desestruturação do atual governo, que gerou manifestações anti-Bush, e a queda na popularidade de George Bush mostrou a insatisfação dos norte-americanos com o atual republicano, e a conseqüente idealização de Barack Obama.

Um comentário:

  1. Então, seguidor Visceral... Agora, todos os domingos eu assinarei uma coluna na revista digital Os Armênios (www.osarmenios.com.br), onde postarei textos e quadrinhos de minha autoria. Se tiver saco também, dê uma conferida no Visceral Literário(www.visceralliterario.blogspot.com), pois eu transferi todos os meus quadrinhos pra lá. Obrigado e até...

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